jsonp({titulo:"",abas:[{titulo:"ANASTASIA STEELE",conteudo:"
1. O perfil da personagem Anastasia Steele já é difícil de engolir: americana, universitária de 21 anos (quando a história começa, ela está na reta final do curso de literatura inglesa) e virgem (em 2011). Anastasia, segundo especialistas, é uma donzela como outra qualquer, com todas as características estereotipadas já vistas em livros, filmes e até fábulas infantis: insegurança, fragilidade, tenacidade etc. A sensação de déjà vu é constante.
2. Anastasia nunca teve um único namorado na vida, apesar de mexer com a libido de todos os homens com quem convive, como José, o amigo de faculdade, e Paul, filho do dono da Clayton’s, loja de material de construção onde trabalha. E, aos 21 anos, não tem sequer um passado de rolinhos e ficadas. Em um trecho, ela diz que Christian Grey é o único homem que lhe despertou realmente a vontade de beijar.
3. Assim que conhece Christian Grey, Anastasia cai estatelada no chão. A autora tentou mostrá-la desastrada para forçar o contraste com a elegância de Christian, mas a passagem ficou boba e gratuita. Sem contar que, nos eventos sociais que acontecem na história, a moça consegue tirar de letra qualquer protocolo ou convenção –inclusive impressiona os pais do namorado, de cara.
4. A autora E L James investe pesado para que o leitor veja Ana como uma Cinderela moderna. Para traçar um paralelo com o conto de fadas, faz com que a garota seja uma espécie de gata borralheira sem roupas ou sapatos adequados para sair com um milionário. É estranho, já que no livro a mãe dela não é necessariamente uma sem-teto –até mora em um lar bem chique, com direito a piscina.
5. Embora pudica, toda vez que se sente excitada na presença de Christian (praticamente a cada página) a mocinha pensa ou solta expressões de baixo calão.
6. A autora faz questão de, implicitamente, lembrar o tempo todo o quanto Ana é comum e banal comparada ao semideus Christian Grey. É um truque de autoajuda disfarçado, para mostrar às leitoras que elas também têm chance de fisgar um milionário ou encontrar o grande amor.
7. Mais do que se sentir curiosa ou excitada com o universo sombrio de Christian Grey, a verdade é que Ana só topa encarar as experiências no Quarto Vermelho da Dor porque deseja conquistá-lo pelo sexo. Embora o ricaço esteja de fato interessado, ela sabe que o amado precisa de determinados estímulos e não quer ficar por baixo, em comparação com as "ex" dele.
8. A infância triste e miserável e a adolescência de abusos de Christian Grey despertam o instinto maternal de Ana. Sem a velha tendência feminina de bancar a mãe do ser amado, provavelmente, o interesse pelo milionário diminuiria. Sem contar que é um recurso psicológico bem clichê recorrer ao passado para justificar as atitudes esquisitas ou o temperamento soturno do Sr. Grey.
9. Ana só passa a ter computador depois de uma ajudinha do Sr. Grey, que lhe compra um laptop. Para uma estudante do ensino superior, que não é de origem tão humilde, soa Inverossímil, no mínimo.
10. Embora E L James tente mostrar Anastasia como dona de um temperamento forte, apesar da aparência frágil, a verdade é que ela só tem lampejos de personalidade nas briguinhas bobas com Christian, para medir forças. Um exemplo é a cena em que ela pede mais cosmopolitans (qualquer semelhança com as moças de “Sex and the City” é mera coincidência?) só para irritá-lo.
1. O perfil de Christian Grey também é um amontoado de clichês. O objetivo é mostrá-lo ao público (feminino, é claro) como um príncipe encantado moderno: lindo, cheiroso, milionário, elegante, culto, sensual, jogador de golfe. Tudo isso com apenas 28 anos. Até o pé do sujeito é perfeito, já que em um trecho Anastasia confessa sentir vontade de lamber seus dedinhos.
2. Para reforçar a sensibilidade do moço, a autora E L James o coloca para tocar piano sozinho na sala, seminu, após uma transa quente. Claro que Ana o flagra e acha a cena maravilhosa, emocionante. Mais clichê impossível.
3. Christian Grey gosta de tratar as mulheres com palmadas, chicotes e cordas de todo tipo, bolas para introdução vaginal e plugs anais. Mas fica chocado quando Ana usa sua cueca para ir embora, para não vestir uma calcinha usada.
4. Christian teve várias parceiras submissas e perdeu a virgindade aos 15 anos com a melhor amiga da mãe, que o introduziu ao sadomasoquismo. Ana nunca tinha tido nada com outro homem antes do dele. Ainda assim, ele fica com ciúme de uma brincadeira para tola que ela faz com o assessor dele, Taylor. O funcionário havia reservado uma suíte para os dois em um hotel em seu nome e Ana brinca com o fato de ter sido, por alguns momentos, a "Sra. Taylor".
5. Praticamente um jogo War ambulante, o Sr. Christian Grey parece querer dominar a Ásia, a Oceania e mais um continente à sua escolha. No início da história, é mostrado como um CEO incansável, dono de um império, que não se cansa de trabalhar. No decorrer da trilogia, porém, o moço passa a maior parte do expediente mandando e-mails com joguinhos psicológicos para Ana ou servindo de motorista (e até piloto de avião) para a moça.
6. "Você. É. Minha". "Você. É. Muito. Gostosa". Talvez na adaptação cinematográfica, com um bom ator interpretando o papel, as palavras ditas pausadamente e de forma tão enfática pareçam sexy. No livro, é bobo.
7. Segundo especialistas em sexualidade, nenhum contrato entre dominador e submissa traz tantos detalhes e determina regras definidas para a vida pessoal como o que Christian propõe a Ana. Até o sono, a alimentação e a depilação da moça são itens em regulamentação.
8. O sucesso do livro, principalmente entre as mulheres, tem levantado a hipótese de que a maioria tem fantasias sexuais de submissão. Alguns especialistas, porém, analisam esse alvoroço todo apenas como resultado do "Efeito Christian Grey". Uma coisa seria levar uns tapas do milionário gostosão, outra bem diferente seria se submeter às mãos do marido que ainda não colocou o lixo para fora. Não se pode subestimar o poder da ficção e, principalmente, o fato de que dinheiro e erotismo caminham de mãos dadas para muita gente.
9. Embora tenha uma aura moderninha, Christian Grey tem um perfil masculino mais convencional, conservador até, de homem provedor que paga as contas. Cansadas da jornada diária tripla, muitas mulheres encontraram no livro uma espécie de catarse, justamente por conta dessas características. Um bom exemplo acontece quando o milionário compra a editora em que Ana trabalha só para se livrar do gerente inconveniente e saidinho da moça. Que garota não se renderia ao sujeito que acabasse com seu chefe grudento?
10. Por mais sedutor que seja, Christian é um maníaco por controle, um obsessivo patológico. Para muitas mulheres modernas, que prezam a liberdade acima de tudo, dinheiro e sexo não o tornariam menos chato.
1. Ana perde a virgindade de modo sublime: sem dor, sem muitas dúvidas e ainda com direito a um orgasmo esplendoroso. Muito diferente da vida real. Segundo especialistas em sexualidade, a chance de atingir o clímax é raríssima na primeira experiência. O desconforto e a tensão do momento contribuem para isso.
1. Durante boa parte do livro, há a impressão de que a mãe de Anastasia é uma matrona que coleciona um marido atrás do outro. Por telefone, parece mais uma mãe dos anos 1950, preocupada e excessivamente dedicada ao lar. É uma surpresa quando o leitor constata que Carla tem 42 anos.
2. Hoje, qualquer ser humano que se interessa por outro vai correndo checar Facebook, Linkedin, Twitter e até Pinterest do pretedente. Anastasia Steele, porém, só tem a brilhante ideia de procurar no Google o nome do Sr. Grey no final do primeiro livro.
3. As comemorações de formatura de Ana, em um bar e depois no próprio evento da faculdade, são sem-graça, sem bebedeira ou pegação. O que E L James economiza em tensão sexual nessas ocasiões, faz questão de esbanjar de forma totalmente inadequada em um jantar em benefício de uma entidade que ajuda crianças com pais dependentes químicos. A festa é um baile de máscaras em que há até um leilão de moças para uma dança. Ana, claro, está entre elas.
4. E L James lança mão de psicologia barata nas entrelinhas. Ana busca um protetor porque perdeu o pai muito cedo e a mãe teve uma vida amorosa inconstante. Christian bate em mulheres morenas parecidas com sua mãe biológica, uma prostituta viciada em crack.
5. A autora buscou inspiração nos comerciais dos anos 1980 para idealizar a cobertura envidraçada de Christian Grey, que também lembra, na descrição, a mansão de Tony Stark (Robert Downey Jr.) em "Homem de Ferro". A sugestão é clara: um herói, com o mundo a seus pés, preso na solidão de sua torre. Quem não consegue se lembrar de já ter visto história parecida?
6. O jogo de gato e rato entre Ana e Christian vai se tornando cansativo desde o primeiro livro, principalmente por causa dos e-mails trocados. Quando os dois começam a definir algum sentido para a relação, um ou outro muda de atitude. Ela quer que ele goste apenas de sexo "baunilha" (convencional, na linguagem S&M), ele decide tentar. E então ela começa a achar que não vai ser suficiente para ele e faz de tudo para apanhar. Quando apanha, fica confusa. E tudo recomeça. As cenas de sexo parecem prolongar uma história que se resolveria em um só livro.
7. A eterna fantasia feminina de mudar o homem através do amor é uma ideia mais do que batida, presente até em contos como "A Bela e a Fera". E L James, no segundo volume ("Cinqueta Tons Mais Escuros"), narra o movimentado passado amoroso de Christian para abordar essa ideia –apesar de ter levado meio mundo para a cama, em experiências arrebatadoras, quem conquistou seu coração foi a ingênua Srta. Steele.
8. Outra ideia latente do livro, bem machista, é a de que uma mulher é livre para fazer o que quiser na cama, desde que seja por amor. Assim, não será julgada. E somente as "boas meninas" serão correspondidas: Elena e Leila, ex-amantes de Christian, traíram os respectivos maridos com Christian Grey e ainda tentaram tirar Ana do caminho por despeito e ciúme.
9. A autora não se aprofunda nas diferenças entre sexo e afetividade. Ana e Christian vivem os dois, mas E L James mostra conservadorismo ao julgar, ainda que muito sutilmente, que o sexo pelo sexo não vale a pena.
10. As experiências de Ana não são pioneiras. Livros como "A História de O", de Pauline Réage, e "Teresa Filósofa", de autoria não confirmada, já abordaram o mesmo tema com mais talento e mais erotismo.
1. Pouca descrição, muita ação. Profissional da indústria do entretenimento (foi gerente de produção de TV), E L James escreveu o livro como se pensasse em um filme. As transas coreografadas remetem a produções como "Instinto Selvagem" e "Infidelidade".