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"Não transo mais por que não quero, não tenho vontade", diz Viviane dos Santos, 36 anos
Ela já tentou duas vezes ter um relacionamento estável, com dois homens diferentes. Nas duas ocasiões, ciúme, desentendimentos e violência permearam a relação. Com um deles, a vendedora Viviane dos Santos, de 36 anos, teve um filho, hoje, com 14 anos. De outras relações passageiras, teve mais três filhos: um morreu ainda bebê, com três meses, e os outros dois, gêmeos, foram doados a uma família. Frustração e separações –inclusive dos filhos– marcam as histórias afetivas dela.
Desiludida, Viviane decidiu excluir da sua vida qualquer possibilidade de encontrar novos parceiros. Sexo, nem pensar. "Não transo mais por que não quero, não tenho vontade, não tenho necessidade. Nunca mais quero alguém na minha vida para isso”, afirma. Mas e masturbação? "De jeito nenhum. Não tenho motivos. Nem penso nisso. Nem tento para ver se é bom ou ruim. Não pretendo e não quero."
Ela lembra, com exatidão, o mês e o ano do seu último contato sexual. “Faz mais de quatro anos. Foi em setembro de 2007. Isso é uma coisa muita bem resolvida na minha vida. Tenho certeza absoluta de que nunca mais vou transar ou me masturbar. Isso é passado, página virada.
"É até prazeroso", diz Marialzira da Fonseca sobre abdicar de uma vida sexual ativa
Marialzira Toledo da Fonseca, 62 anos, foi casada duas vezes. Na primeira, teve dois filhos, uma menina, hoje com 39 anos, e um menino, que agora tem 38. No segundo, mais uma filha, que tem 26. Seus casamentos nunca foram dos mais harmoniosos. No entanto, ela garante que sua opção por abdicar da vida sexual não tem nenhuma relação com frustrações ou desilusões. Segundo a microempresária, foi uma decisão tranquila, consciente e rica em lições de vida e autoconhecimento.
Ela está há 13 anos sem sexo. Nem masturbação. "Zero, zero, zero, zero...", enfatiza ela, que acrescenta: "E com uma saúde muito boa, a cabeça melhor do que antes, principalmente porque não sofro pressões externas, de ter de cumprir o papel de mulher quando um homem quer. Essa liberdade é divina. É muito bom. Nunca fui tão feliz quanto sou hoje. Vivo muito, muito feliz."
Seus dias, antes de abrir mão da prática sexual, diz ela, não eram bons. "Eu seguia padrões de comportamento impostos pela sociedade. Tinha uma vida chamada de normal. Com sexo, marido. Mas eu estava sempre incompleta. Esses padrões impõem muitas ilusões. Hoje, não tenho ilusões, não tenho preocupações, não crio expectativas."
Segundo ela, ficar sem sexo não é ruim. O problema, para a microempresária, é estar mal resolvida com relação ao assunto. "Escolher isso por mágoa, rancor, não é legal. Eu não tenho nada disso. Duas amigas vieram à minha casa e me disseram que pessoas sem sexo desenvolvem câncer. Mas as pessoas ficam doentes quando há uma carga emocional pesada."
Para Marialzira, há uma banalização do sexo. "Sexo tem de ser praticado com o coração, com a alma e com sabedoria. Sem sabedoria, provoca dor, sentimento de rejeição, de desprezo. Fica um vazio enorme. Mas a decisão de não praticar mais sexo não acontece de uma hora para outra. É um processo de autoconhecimento, de educação interior, de saber que é possível superar as coisas que os seres humanos, de forma geral, julgam ser impossíveis de serem superadas. Depois, entendemos que não é tão difícil e é até prazeroso."
O monge Brahamachari utiliza sua energia sexual durante suas meditações no templo
O monge Brahamachari Shankar (Sam Moraes, nome de registro), 31 anos, está na Ordem Monástica Ramakrishna desde 2003. No entanto, ele diz que não pratica sexo muito antes de ingressar na Ordem. “Não optei pela abstinência por desilusão amorosa ou algo parecido. Foi uma decisão tranquila. Descobri que a felicidade espiritual é muito superior à felicidade que se obtém com as coisas físicas”.
No entanto, Brahamachari utiliza sua energia sexual (a kundalini, segundo sua crença) durante suas meditações no templo. "Por meio da meditação, da yoga, essa energia desperta. É uma energia muito forte e precisa encontrar canais superiores de manifestação. Caso contrário, é prejudicial. Se alguém usa essa energia de forma incorreta provoca desequilíbrio."
Ele conta que tem aprendido a utilizar sua energia há anos. “Posso dizer que sou uma pessoa melhor hoje. Sou muito mais calmo, muito mais equilibrado, menos propenso aos altos e baixos emocionais, tão comuns à maioria das pessoas. Hoje, consigo lidar de uma forma muito mais tranquila com os imprevistos, como uma morte, o anúncio de uma doença, a perda de algo material. Tudo fica menor quando estamos equilibrados."
Para ele, é preciso mudar o ponto de atenção da vida. "Todo mundo busca a felicidade. Mas as pessoas conhecem a felicidade somente por meio dos prazeres dos sentidos. Mas existem vários níveis de felicidade que independem dos sentidos físicos e que podem ser alcançados pela meditação. Com isso, despertamos faculdades superiores, como a compaixão, o amor ao próximo, a calma e a paz, por exemplo."