Jornalismo online nos EUA - 2006 - Atitudes do público

Atitudes do público

Por que cada vez mais pessoas preferem a Internet para obter notícias? E o quanto elas confiam no que obtêm lá, da Internet em geral e dos noticiários online em particular?

A resposta parece ser que o controle e a conveniência são os principais fatores de atração da Internet. Mas com o tempo a confiança na mídia não está crescendo; está diminuindo.

 

A atração da Internet

No que se refere à a atração da Internet, um ano atrás descobrimos que sua conveniência e a diversidade de pontos de vista eram suas principais atrações. Em 2005, novas pesquisas sugerem mais uma vez a importância da conveniência. Segundo pesquisa feita pelo Centro de Pesquisas Pew para a População e a Imprensa, quase três quartos (73%) disseram preferir a versão digital de um jornal à versão impressa porque é mais conveniente.

O custo pode ser um fator menor, o que talvez encoraje os produtores que pretendem começar a cobrar. Somente 8% disseram à Pew que preferem a Internet porque é de graça.

O controle ou a interatividade também eram uma grande atração. Uma pesquisa conduzida pela Associação de Editores Online em parceria com o Centro de Gerenciamento de Mídia da Universidade Northwestern, descobriu que o principal motivo para o uso dos sites era que a Internet "me entretém e absorve".

Os pesquisadores também estudaram o envolvimento com os jornais e a televisão e descobriram que vários outros motivos eram únicos na Internet, muitas vezes relacionados ao controle. Estes incluíam: "me conecta com os outros", "é sob medida para mim", "me leva a outras mídias", "uma maneira de preencher meu tempo", "meu prazer culpado" e "tenta me convencer".

 

Confiança

Mas apesar de todas as vantagens óbvias, o acesso e a interatividade também podem fazer parte do calcanhar-de-aquiles da Internet como fonte de informação. No ano passado relatamos que embora a web estivesse se tornando uma fonte de notícias generalizada e aceita, havia evidências de que a confiança na Internet estava diminuindo.

E novas pesquisas mostram que a tendência continuou. Em 2004, o Centro para o Futuro Digital e a Escola Annenberg da USC descobriram que a proporção de usuários que acreditam que a maior parte ou toda a informação na Internet é confiável e precisa havia diminuído pelo terceiro ano consecutivo, para apenas 49% -- um declínio acentuado em relação aos 58% em 2001.

Os sites de notícias são tão dignos de confiança quanto a mídia noticiosa tradicional, segundo os dados. A maioria (68%) daqueles que entram na dizem acreditar "em quase tudo" ou "na maior parte" do conteúdo de seu site básico de notícias, segundo pesquisa da Consumer Reports. Esse nível de confiança está prestes a se equiparar ao dos que confiam nos noticiários de jornais e televisão.

A confiança nos sites de notícias também supera a confiança em outros tipos de sites. Na verdade, nenhum outro tipo de site registrou uma maioria de usuários que confiavam que o site oferecesse informação precisa na maior parte das vezes, segundo a Consumer Reports. E o Centro para o Futuro Digital descobriu que o público considerava os sites da mídia estabelecida e do governo mais verossímeis do que a informação publicada por indivíduos. Quase 8 em cada 10 (79%) disseram que parte ou toda a informação nos sites de mídia estabelecida como os do New York Times ou CNN.com era confiável e precisa, com os sites do governo (78%) logo atrás. Enquanto isso, apenas 12% disseram que os sites publicados por indivíduos eram confiáveis e precisos.

 

Confiança nas Organizações para Obter Informação Precisa

 

  2005 2002


Sempre/ Maioria das vezes

Às vezes /Nunca

Sempre/ Maioria das vezes

Às vezes /Nunca

Jornais e noticiários de TV

56%

42

58

41

Sites de Notícias na Web

54%

39

--

--

Sites para crianças

34%

36

--

--

Sites que dão conselhos a consumidores

31%

62

33

59

Grandes companhias

29%

69

32

66

Sites que oferecem produtos à venda

26%

69

29

64

Blogs

12%

57

--

--

Fonte: Consumer Reports Web Watch, "Salto de fé: Usando a Internet apesar dos perigos", 26 de outubro de 2005.

 

Um episódio que despertou o interesse sobre a credibilidade de publicações de indivíduos ocorreu no início de dezembro de 2005. Depois que um anônimo publicou uma grande informação fictícia sobre John Siegenthaler Sr., um ex-editor do The Tennessean em Nashville, na enciclopédia online Wikipedia, Siegenthaler escreveu sobre a publicação em uma página de opinião do USA Today. Mais tarde, um detetive cibernético amador rastreou a publicação até um computador em Nashville, o que levou à eventual confissão do infrator. Embora não tenha sido aberto um processo civil, o incidente levantou perguntas sobre a confiabilidade da Wikipedia e outros sites que geralmente não têm os mesmos níveis de responsabilidade que os sites de notícias tradicionais.

Também há pesquisas que sugerem que os americanos estão exigindo que a Internet, e especialmente os sites de notícias, cumpram mais sua auto-proclamada capacidade de oferecer transparência e confiabilidade. E essas expectativas só aumentaram nos últimos anos. Quase 7 em cada 10 (69%) usuários da web consideram muito importante que os sites de notícias rotulem claramente toda a publicidade, e que os anúncios devem ser diferenciáveis das notícias e informações -- um aumento de 10 pontos em relação a 2002. E um número maior de usuários quer que os sites de notícias exibam com destaque suas páginas para correções e esclarecimentos: 44% hoje consideram isso muito importante, também um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2002.

Os usuários também querem ser capazes de comunicar-se com editores e repórteres: 47% disseram que é muito importante que os sites de notícias ofereçam aos leitores endereços de e-mail para contatar a equipe editorial dos sites, contra 36% em 2002.

Quanto aos blogs, apesar do desejo de mais responsabilidade, as pessoas sentem-se atraídas por eles mesmo que não necessariamente confiem neles. Esse ceticismo o vale mesmo para as que lêem blogs.

Apenas 1 pessoa em cada 8 (12%) considera a informação dos blogs confiável na maioria das vezes. Enquanto isso, 36% dizem que os blogs são precisos na maioria das vezes, com um quinto (21%) afirmando que eles nunca ou quase nunca são precisos. E apenas 23% dos leitores de blogs dizem que podem confiar nos blogs pelo menos na maioria das vezes, enquanto três quartos (73%) dizem acreditar somente em parte ou nada do que lêem nos blogs.

Recentemente também presenciamos um crescimento no uso da fotografia digital na Internet. Preocupações sobre fraudes cercaram a publicação de uma foto da Reuters do presidente Bush nas Nações Unidas escrevendo um bilhete para a secretária de Estado, Condoleezza Rice, sobre um "intervalo para banheiro" que circulou amplamente no país e no exterior. A foto, embora embaraçosa para o presidente, era real.

O público americano se preocupa com fotos modificadas digitalmente ou mesmo falsas? Aparentemente não tanto quanto se poderia suspeitar, segundo pesquisas. Enquanto quase a metade (47%) dos usuários da web diz que já encontrou uma foto digital manipulada, mais de dois terços (67%) dizem que confiam muito ou um pouco nos sites de notícias sobre o uso de fotos autênticas; 30% têm pequena ou nenhuma confiança.

 

Jovens americanos e suas atitudes em relação à web

O que sabemos sobre as atitudes em relação à web como fonte de notícias e informações para os jovens, que estão entre os usuários mais assíduos da Internet?

Em 2005 soubemos que muitos jovens consideram a Internet uma ferramenta de aprendizado. Segundo dados da Carnegie Corporation de Nova York, 41% dos americanos entre 18 e 34 anos dizem que a Internet é a maneira mais útil de aprender, em comparação com 15% para a televisão local, que ficou em segundo lugar.

Pode haver certas evidências de que os jovens consideram os noticiários online ligeiramente mais confiáveis do que as gerações mais velhas. A Carnegie Corporation descobriu que "ser confiável" era considerado um motivo muito crítico pelo qual os jovens preferem a web para obter notícias a outras plataformas de mídia.

Também parece haver uma lacuna entre gerações sobre a questão da credibilidade dos blogs. Uma pesquisa feita pela Hostaway.com, uma empresa de hospedagem de web com escritórios em Chicago, Tampa e Vancouver, descobriu que os americanos menores de 30 anos tinham muito maior probabilidade do que seus homólogos mais velhos a considerar os blogs fontes confiáveis de informação. Na verdade, os blogs eram considerados tão verossímeis quanto a mídia tradicional nessa faixa etária. Isso não é de surpreender, levando em conta que o uso de blogs é consideravelmente maior entre os jovens americanos do que entre os mais velhos.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Versão original:
http://www.stateofthemedia.org/2006/narrative_online_intro.asp?cat=1&media=4