Jornalismo online nos EUA - 2006 - Audiência

Audiência

Que tendências verificamos entre as pessoas que usavam a Internet para obter notícias no final de 2005? Examinando os dados, nossa sensação é de que:

• A porcentagem de americanos adultos que lêem notícias online parece ter-se estabilizado.

• Mas os que o fazem estão começando a consumir com maior freqüência.

• O uso dos sites de jornais, particularmente, está crescendo.

• E há vários motivos pelos quais os pesquisadores esperam que esses números voltem a se acelerar.

O número de americanos online

Enquanto um site na web pode reunir toda espécie de informação detalhada sobre seus usuários, desde pelo tipo de produtos que eles compram até a hora do dia em que acessam, não há um método claramente estabelecido para avaliar o uso geral da web. Os melhores dados ainda vêm principalmente de pesquisas de opinião pública, e o resultado de uma pesquisa muitas vezes contradiz outro. Além disso, para compreender o universo do consumo de notícias online é preciso primeiramente definir o universo mais amplo dos usuários da Internet.

Para esse universo, dois grupos de pesquisas -- o Pew Internet and American Life Project [Projeto Pew sobre a Internet e a Vida Americana] e o Pew Research Center for the People and the Press [Centro Pew de Pesquisas sobre População e Imprensa] -- avaliaram que cerca de 7 em cada 10 adultos usaram a Internet de alguma maneira em 2005. Em números absolutos, isso significa que aproximadamente 137 milhões de americanos adultos afirmaram ter entrado na rede no final de 2005.

E o número pode ser ainda maior se incluirmos mais jovens. O Centro para o Futuro Digital da Escola Annenberg da Universidade da Carolina do Sul, perguntando não apenas sobre adultos mas qualquer pessoa com 12 anos ou mais, descobriu que 79% dos americanos haviam acessado a Internet em 2005, contra 76% em 2003 e 71% em 2002.

Porcentagem da população que já acessou a Internet

1995-2005

Fonte: Pew Research Center for The People and The Press, "Public More Critical of Press, But Goodwill Persists," 20 de Junho de 2005 * qu: Do you ever go online to access the Internet or World Wide Web or to send and receive email?

 

 

Uso de notícias online

Quantas dessas pessoas entram na web especificamente para obter notícias? Essa resposta também varia de uma pesquisa para outra, mas algumas generalizações parecem claras.

Primeiro, a vasta maioria dos adultos que usam a Internet em algum momento a acessam para obter notícias.

Em 2005, aproximadamente 70% dos americanos adultos que entraram na web disseram que a usaram para notícias, aproximadamente o mesmo número que um ano antes, segundo o Projeto Pew Internet. Em números reais, isso representa cerca de 97 milhões de americanos adultos. E com as mudanças populacionais esse número cresceu dos 86 milhões estimados em novembro de 2004.

A principal área de crescimento em 2005 pareceu ser na regularidade. O uso diário cresceu 7 pontos percentuais, segundo o Centro de Pesquisas Pew, para aproximadamente um terço (34%) dos usuários, contra 27% em 2004. Fazendo a pergunta de maneira um pouco diferente, segundo a Pew Internet, os que disseram ter lido notícias online "ontem" aumentaram para 30% dos usuários, ou 3 pontos percentuais em relação a 2004.

 

Porcentagem de usuários da Internet que acessam notícias online

Percent accessing news online ever or yesterday, 2000 to 2005

Fonte: Pew Internet and American Life Project tracking surveys

 

Outra maneira de medir o interesse por notícias online em relação a outras mídias de notícias é inverter a pergunta: não perguntar se a pessoa entra na web para obter notícias, e sim, de maneira mais geral, onde ela obtém a maior parte das notícias. Medido dessa maneira, o uso pelos americanos da Internet para obter notícias diariamente duplicou nos últimos anos. Uma pesquisa da Consumer Reports mostra que hoje 11% obtêm a maior parte das notícias na web, contra apenas 5% em 2002.

Portanto, o número de pessoas que usam a web para obter notícias cresceu pouco, mas o número dos que a usam regularmente cresceu mais -- o que talvez seja mais importante para os que investem nessa mídia.

E existem certas evidências de que os sites de jornais estão ganhando, particularmente. Mais de dois terços (67%) dos adultos americanos disseram ter acessado sites de jornais locais ou nacionais no final de 2005, um aumento de 5 pontos percentuais em relação ao início do ano. Se essas pessoas estão trocando o jornal impresso por sua versão online, como sugerem alguns dados, esse é provavelmente um dos motivos pelos quais a queda de circulação dos jornais está aumentando.

Também vale a pena repetir algo que notamos no ano passado: alguns observadores dizem que o consumo de notícias online pode estar sendo subavaliado. Primeiro, segundo esse argumento, as pessoas poderiam obter notícias de diversos lugares que não consideram necessariamente sites de notícias -- como a primeira página de Yahoo, MSN e AOL. E segundo, as pesquisas geralmente não incluem os adolescentes, grupo que é um dos usuários mais fortes da web.

Olhando à frente

Que crescimento do consumo de notícias online podemos esperar para 2006 e depois? A projeção do uso de notícias online é necessariamente especulativa. Ainda assim, a maioria dos observadores vê a continuação do crescimento, embora mais lento que antes. A Jupiter Research, uma das principais firmas de previsão de números econômicos e audiência online, prevê que até 2010 a penetração geral da Internet alcançará 74%, contra 68% em 2005 -- um aumento aproximado de 1% ao ano nos próximos quatro anos. Enquanto isso sugere mais uma "fase de amadurecimento" do que um crescimento explosivo, ainda representa crescimento. E a evidência sugere que conforme cresce o uso geral da Internet também crescerá o uso da rede para notícias.

Os analistas citam três fatores para prever um crescimento continuado, dois dos quais poderão aumentar não apenas o número de pessoas que usam a Internet mas o quanto o fazem:

Adolescentes americanos

Grupos raciais e étnicos

Banda larga

 

Adolescentes e crescimento

Grande parte das pesquisas existentes geralmente excluem os menores de 18 anos de idade, os chamados "nativos digitais" nas palavras de Rupert Murdoch. Uma pesquisa do Projeto Pew sobre a Internet e a Vida Americana mostra que quase 9 em cada 10 adolescentes americanos (87%) são usuários da Internet, comparados com quase 7 em 10 (68%) dos adultos.

Além disso, os adolescentes têm probabilidade ligeiramente maior que os adultos de acessar notícias online, e esse uso está crescendo. Em 2005, 76% dos adolescentes obtinham notícias online -- contra 38% em 2000, 6 pontos percentuais a mais que os maiores de 18 anos, segundo o Projeto Pew. Na medida em que os adolescentes passarem para o grupo dos adultos, que os pesquisadores costumam analisar, a utilização geral da Internet deverá crescer.

 

Etnia e crescimento

Também existe um crescimento projetado entre vários grupos raciais e étnicos, embora essas estimativas se refiram à utilização geral da Internet, e não exclusivamente a notícias. A Jupiter Research, por exemplo, estima que a penetração em residências afro-americanas crescerá de 56% para 64% de 2004 até 2010; a penetração hispânica, de 52% para 64% e a asiático-americana de 71% para 83%.

 

Banda larga e crescimento

Finalmente existe a questão de como a expansão das conexões em banda larga afetará as notícias. "Banda larga" é um termo que significa conexões de Internet em alta velocidade. Cada vez mais americanos estão adotando esse modo de conexão veloz. E pesquisas sugerem que os usuários de banda larga têm maior probabilidade que os usuários de conexão discada de realizar várias atividades online, incluindo o consumo de notícias. Além disso, existe uma forte possibilidade de que a disponibilidade e facilidade de acessar vídeos de notícias e matérias em banda larga leve a um crescimento maior do consumo de notícias online; um número crescente de organizações noticiosas está oferecendo atrações em vídeo. Existe também uma possibilidade de que conforme um maior número de cidadãos contribua para o conteúdo das notícias, seja em sites formais ou em sites amadores e blogs, o cardápio de notícias vai se expandir e atrair novos mercados. Assim, qualquer aumento na adoção da banda larga logicamente incluiria um aumento no uso de notícias online.

 

A Internet está canibalizando a mídia tradicional?

A concorrência com os jornais e a televisão pela receita de publicidade está no centro da preocupação dos que acompanham a indústria de notícias. As implicações econômicas são críticas para o futuro do jornalismo e para o que poderemos esperar da paisagem de mídia enquanto a Internet se torna um fator mais importante no consumo de notícias pelos americanos.

No relatório anual do ano passado, citamos evidências de que o uso de notícias online estava começando a desgastar o consumo de notícias na televisão. E pela primeira vez vimos evidências mais sólidas de substituição também nos números de audiência dos jornais impressos.

Qual é o panorama no início de 2006?

 

Jornais

Para as edições impressas, existe ainda mais evidência de canibalização, e ela parece estar ocorrendo em duas frentes, no consumo de notícias e nas verbas de publicidade.

Pesquisas sobre o consumo de notícias do Centro de Pesquisas Pew para a População e a Imprensa confirmam o que vimos no ano passado -- que alguns consumidores que adotam a versão online dos jornais estão abandonando a versão impressa. Segundo esses dados, 35% dos leitores de jornais online dizem que estão lendo a versão impressa "com menor freqüência".

Outro estudo examinou a questão mais profundamente, concentrando-se no mercado de Washington (DC). O estudo, realizado por Matthew Gentzkow, da Universidade de Chicago, desenvolveu um modelo matemático para avaliar a extensão em que as notícias online se sobrepõem ou complementam os jornais impressos. Segundo essa pesquisa, o site do principal jornal online da cidade, www.washingtonpost.com, reduziu o leitorado da versão impressa em 27 mil por dia, o que Gentzkow chamou de "quantidade moderada". Mas não ficou claro em que medida outros sites de jornais poderiam estar reduzindo o público do Washington Post impresso.

Também parece haver certa diferença em que tipo de leitores de jornal está abandonando a versão impressa. Dados da Escola Annenberg sugerem que os maiores leitores de notícias online gastaram em 2005 quase a mesma quantidade de tempo que em 2003 com as versões impressa e online do jornal. Mas os consumidores mais leves de notícias online declararam ter gasto menos tempo com a forma impressa em 2005. E isso poderia significar que os jornais terão maior dificuldade no futuro para transformar leitores casuais em audiência fixa.

 

Minutos que os leitores de notícias online gastaram lendo jornais impressos, 2005

Total de minutos semanais

Fonte: The Digital Future Report, USC Annenberg School Center for the Digital Future, unpublished data, Jan 2006
* Online news users are those who get news online at least one minute per week. Light use is under 60 minutes a week, medium is 60 to 119 minutes, heavy is 120 minutes or more.

 

Mas a tendência a se afastar da versão impressa tornou-se uma questão crítica para a indústria jornalística, mais notadamente uma evidência de que a web está começando a concorrer com o que é a maior fonte de receita dos jornais impressos: a publicidade. Em nível local, os consumidores recorrem cada vez mais à Internet, em detrimento dos jornais, para obter informação sobre produtos e serviços locais, segundo pesquisa do Kelsey Group e da Constat Inc. Cerca de 70% dos domicílios usaram a web em fevereiro de 2005 para procurar lojas e comerciantes locais -- contra 60% em outubro de 2003. E o número de domicílios que procuraram informação sobre lojas e serviços próximos em jornais impressos diminuiu ligeiramente, de 73% para 70%.

Ainda mais perturbador para os jornais é que alguns dos sites para os quais os consumidores estão migrando não são jornais online, e sim sites sem noticiário, como eBay e Craigslist. Desse modo, como já demonstram os números de investimento, parte da receita de publicidade está se afastando totalmente do jornalismo nessa migração online.

 

Televisão

Quanto à televisão, os dados também continuam sugestivos, mas não conclusivos. Durante vários anos, algumas pesquisas sugeriram que o consumo de notícias online estava desgastando o da televisão ainda mais que o dos jornais.

Três novas pesquisas reforçaram essa sensação em 2005. Uma pesquisa da Nielsen/NetRatings no inverno de 2005 descobriu que 47% dos entrevistados que procuram notícias e informações online disseram ter passado mais tempo online do que um ano antes, e cerca de 20% disseram que passaram menos tempo assistindo televisão. E um estudo da firma de pesquisas online Big Research, que examinou o uso geral de mídia entre americanos de 18 a 24 anos, concluiu que o aumento do uso de novas mídias nesse grupo teve um "efeito negativo" sobre a audiência de televisão. Finalmente, resultados de pesquisas da Jupiter Research sugerem que os americanos hoje passam tanto tempo na web quanto assistindo televisão.

Mas também houve algumas evidências contraditórias em 2005. O professor Bob Papper, da Universidade Ball State, afirma que pesquisas por telefone muitas vezes deixam de fornecer informações completas sobre a quantidade de mídia que os americanos consomem por dia. Nos últimos dois anos, Papper realizou estudos de observação em Muncie, Indiana, que não encontraram evidências de que o consumo geral online prejudica diretamente o consumo geral de televisão.

E as conclusões de Papper são sustentadas pelo grande banco de dados da Internet do Centro para o Futuro Digital da Escola Annenberg. Ele descobriu que a audiência semanal de televisão aumentou no ano passado entre os consumidores de notícias online, especialmente entre os consumidores mais leves.

Enfim, o impacto sobre a televisão hoje é menos claro do que parecia ser alguns anos atrás, e algo a se observar.

 

Minutos que os usuários de notícias online passarm vendo televisão, 2005

Total de minutos semanais


Fonte: The Digital Future Report, USC Annenberg School Center for the Digital Future, unpublished data January 2006
* Online news users are those who get news online at least one minute per week. Light use is under 60 minutes a week, medium is 60 to 199, and heavy is 120 minutes or more.

 

Jovens americanos e a web

A web ainda é dominada pelos jovens? Embora talvez seja verdade que os jovens são os maiores usuários da incrível gama de funções disponíveis na web, como mensagens instantâneas e download de músicas, isso também se aplica ao uso de notícias online?

Os jovens americanos claramente lideram em diversas atividades não noticiosas disponíveis aos usuários da Internet. Segundo o Projeto Pew sobre a Internet e a Vida Americana, é maior a probabilidade de eles dizerem que usam mensagens instantâneas, visitam sites de conteúdo adulto, participam de bate-papo, usam sites de classificados como Craigslist para vender ou comprar coisas, baixam música, assistem a videoclipes ou escutam clipes de áudio, jogam videogames online, apostam, procuram informações sobre emprego ou moradia, compartilham arquivos, participam de campeonatos esportivos fantasia e usam a webcam.

Por outro lado, os jovens também são consideravelmente mais inclinados que outras faixas etárias a dizer que a Internet é sua principal fonte de notícias. Atualmente, 36% das pessoas de 18 a 29 anos dizem que a Internet é a fonte principal, mais que as de 30 a 49 anos (30%), de 50 a 64 (16%) e acima de 65 (4%), segundo o Centro de Pesquisas Pew.

Outra pesquisa também sugere que os americanos mais jovens contam com a web como principal fonte de notícias em grau maior que outras faixas etárias. A Consumer Reports descobriu que quase um em cada cinco americanos (19%) de 18 a 40 anos considera a Internet sua principal fonte de notícias, mais que o dobro daqueles entre 41 e 59 anos (8%) e superando em muito os de 60 ou mais (1%).

Há evidências, porém, de que os americanos mais velhos têm maior probabilidade que os jovens de ser consumidores freqüentes de notícias, o que levanta questões sobre a dedicação dos jovens ao longo do tempo a um produto de notícias online e sobre o melhor uso das verbas de publicidade.

Enquanto 29% da faixa de 18 a 29 anos dizem que obtêm notícias online todos os dias, 37% da de 30 a 49 anos são consumidores diários de notícias online, segundo o Centro de Pesquisas Pew para a População e a Imprensa.

Isso também é verdadeiro quando a pergunta é se entrou na web em busca de notícias "ontem", que é outra maneira de medir o uso freqüente. Dos usuários de 18 a 29 anos, 26% acessaram notícias ontem, menos que os 35% na faixa de 30 a 49 anos ou os 29% na faixa de 50 a 64, segundo o Projeto Pew sobre a Internet e a Vida Americana.

Finalmente, onde os jovens americanos procuram notícias online? A Carnegie Corporation de Nova York pesquisou americanos de 18 a 34 anos e descobriu que portais da Internet como Yahoo eram a fonte mais popular de notícias diárias, com sites de notícias de TV local em segundo lugar e os sites de redes ou TVs a cabo e sites de jornais empatados em terceiro. Isso também poderia ter grandes implicações para o futuro, especialmente porque os sites de jornais não estão no topo da lista.

 

Os mais jovens dos jovens

Na primavera de 2005, a Sociedade Americana de Editores de Jornais realizou sua conferência anual em Washington. Rupert Murdoch, diretor-executivo da News Corp., falou aos delegados sobre a pesquisa da Merrill Brown para a Carnegie Corporation de Nova York que avaliou padrões de mídia entre os americanos de 18 a 34 anos. Especificamente, Murdoch falou sobre o futuro do jornalismo e que a indústria precisa se adaptar para continuar relevante para os ainda mais jovens -- adolescentes e pré-adolescentes --, a quem ele se referiu como "nativos digitais":

"O desafio, porém, é oferecer essas notícias das maneiras que os consumidores querem recebê-las. Antes de podermos aplicar nossas vantagens competitivas, precisamos libertar nossas mentes dos preconceitos e predisposições e começar a pensar como nossos consumidores mais novos. Em suma, temos de responder a essa pergunta fundamental: o que nós -- um bando de imigrantes digitais -- precisamos fazer para ser relevantes para os nativos digitais?"

Houve muita discussão sobre esses nativos digitais, mas como eles usam a mídia? No relatório anual deste ano, decidimos expandir nosso entendimento da juventude e do futuro da web para um grupo ainda mais jovem, os de 8 a 18 anos.

A pesquisa da Kaiser Family Foundation mencionada antes examinou hábitos de consumo diário de mídia. Resumindo, o estudo sugere que essa geração ainda vê muita televisão, lê consideravelmente menos e consome um grande volume de mídia interativa. A televisão é a plataforma de mídia predominante entre esses jovens americanos, com mais de 8 em cada 10 assistindo mais de três horas em qualquer dia. Mas somente 6% desse tempo de audiência é dedicado a notícias.

Enquanto isso, esses jovens gastam muito pouco tempo com a mídia impressa fora da escola ou do trabalho. Segundo o estudo, "nenhuma mídia impressa individual atrai a atenção de 50% da garotada, e menos de 20% deles lêem por prazer durante mais de uma hora por dia". Apenas 43 minutos por dia fora da escola eram gastos na leitura de material impresso, e somente 6 desses minutos eram dedicados a jornais.

O uso do computador fora da escola ou do trabalho era maior do que o consumo de material impresso e parecia estar crescendo. Crianças de 8 a 18 anos passavam mais de uma hora por dia com computadores, mais que duplicando os 27 minutos por dia relatados em 1999, segundo o estudo. Os jogos eram a atividade mais freqüente; visitar sites da web ficou em segundo lugar.

Com todas as dificuldades para se prever o futuro, as conclusões têm algumas implicações potencialmente importantes. A menos que os hábitos mudem quando essas crianças se tornarem adultos, as conclusões indicam algumas mudanças significativas em quem vai prosperar e quem vai regredir online.

A tendência geral parece ser uma aceleração para plataformas de mídia mais visuais, digitais e interativas e um afastamento das que se baseiam na mídia impressa.

 

O que as pessoas lêem online?

Como as opções de temas entre leitores online se comparam com as dos leitores de jornais?

Talvez pelo fato de as notícias online concorrerem com tantas outras atividades que podem ser realizadas enquanto se navega, os usuários parecem gravitar para temas diferentes mais do que quando lêem um jornal impresso.

Pesquisas de 2003 e 2004 entre leitores diários de jornais impressos feitas pela Mediamark Research descobriram que a maioria lê seções dos jornais que incluem notícias gerais (60%), esportes (36%), página editorial (37%), economia e finanças (35%), páginas de classificados (32%) e listas e resenhas de filmes (27%).

Para ter uma sensação de como esses números se comparam com as opções online, examinamos os hábitos de usuários regulares, nesse caso os que disseram ter entrado na web "ontem". Os dados mais recentes sugerem que eles acessam online algo muito diferente do que no jornal impresso. O tipo de notícia que eles procuram na web regularmente inclui notícias gerais (30%), notícias ou informação sobre política e campanha eleitoral (18%) , informação sobre filmes (13%), resultados esportivos (11%) , informação financeira (8%) e anúncios classificados em sites como Craigslist (6%).

Enquanto isso, o consumo online ocasional se parece mais com os hábitos dos leitores diários de jornais. Os dados mais recentes disponíveis do Projeto Pew sobre a Internet e a Vida Americana mostram que 73% dos usuários ocasionais diziam ter procurado "informação sobre filmes, música, livros ou outras atividades de lazer"; 72% tinham em algum momento lido "notícias" em geral; 44% tinham entrado online para "obter informação financeira, como cotações de ações ou taxas de juros"; 43% disseram ter entrado na web para "verificar resultados ou informações esportivas" e 36% tinham usado "anúncios classificados online ou sites como Craigslist para vender ou comprar coisas, procurar emprego ou conhecer outras pessoas".

 

Blogs

Depois de um extraordinário crescimento em 2004, talvez alimentado pela eleição presidencial altamente partidária, parece que a leitura de blogs diminuiu em 2005. Embora os blogs sejam freqüentemente considerados um símbolo da nova mídia cidadã e democrática que Dan Gillmor e outros defenderam, existem certas evidências de que os maiores leitores de blogs são membros do establishment de Washington.

Enquanto isso, os autores de blogs (bloggers) lutaram com questões éticas sobre o impacto que a publicidade poderia ter em seu conteúdo e surgiu um debate no Capitólio e nos tribunais sobre se os blogs tinham os mesmos direitos jurídicos que os jornalistas tradicionais.

 

Leitorado de blogs

Depois de um crescimento extraordinário em 2004, os dados sugerem que a leitura de blogs desacelerou em 2005. De fevereiro de 2004 a janeiro de 2005, o número de americanos online que disseram ter lido um blog aumentou quase 60% -- de 17% para 27%, segundo o Projeto Pew sobre a Internet. Desde então, a porcentagem de leitores de blogs permaneceu estável.

Mas em números agregados isso significa que o leitorado de blogs cresceu de 32 milhões para 37 milhões de pessoas. Com o crescimento geral da população da Internet, isso ainda significa que 16% a mais de pessoas liam blogs no final de 2005, em comparação com o final de 2004. Mas a explosão no consumo de blogs por enquanto parece ter arrefecido.

A leitura regular de blogs, diferentemente da leitura ocasional ou isolada, também não cresceu muito. Segundo o Projeto Pew sobre a Internet, a proporção de usuários da Internet que eram leitores regulares de blogs permaneceu em 7% de um ano para o outro.

Como apenas cerca de um quarto da população já leu blogs, eles ainda são uma plataforma relativamente desconhecida para a maior parte do público. Em fevereiro de 2005, só 26% dos usuários da Internet disseram que "conheciam bem" ou "conheciam um pouco" os blogs, segundo uma pesquisa Gallup/CNN/USA Today.

E quem forma essa minoria de americanos que consome blogs? Pesquisas sugerem que eles têm maior probabilidade de ser jovens e homens. E, ironicamente, os mais ardentes leitores de blogs são os jornalistas -- o grupo que talvez se sinta mais ameaçado por eles.

De fato, há certa evidência de que os blogs se tornaram uma parte fundamental da dieta de notícias dos jornalistas. Um estudo de 2005 da Universidade de Connecticut descobriu que 41% dos jornalistas acessam blogs pelo menos uma vez por semana e 55% dizem ler blogs como parte de seus deveres profissionais diários.

 

Criadores de blogs

O crescimento do número de americanos que produzem blogs também parece ter desacelerado. Em 2004, o número de "bloggers" duplicou, o que significa que 10% dos usuários da Internet tinham escrito um blog em algum momento, segundo dados do Projeto Pew sobre a Internet e a Vida Americana. Em 2005 o crescimento foi muito mais modesto, de apenas 5% em relação ao ano anterior. Isso representa aproximadamente 9 milhões de adultos americanos que tinham criado blogs no final de 2005.

Existe certa evidência contraditória se não examinarmos o número de bloggers, e sim o número de blogs -- sites diferentes sobre assuntos diferentes. Em janeiro de 2006, a Technorati havia indexado quase 27 milhões de blogs abrangendo cerca de 1,9 bilhão de links, e estimou anteriormente que 70 mil novos blogs eram criados por dia. Outra pesquisa mostra que a blogosfera é ainda maior. A Perseus Research, um desenvolvedor de sistemas de pesquisa na web, de Massachusetts, estimou que o número de blogs poderia superar 53 milhões até o final de 2005.

Por que há discrepância? Como o crescimento de bloggers pode estar desacelerando enquanto mais blogs são identificados? Poderia ser porque o índice da Technorati inclui blogs do mundo inteiro, enquanto a pesquisa geralmente é conduzida exclusivamente entre americanos. Também pode ser que o software que identifica os blogs esteja melhorando. Ou talvez alguns indivíduos que criam blogs estejam fazendo mais de um blog.

Seja como for, o crescimento da blogosfera parece mais robusto que o crescimento de seu público.

 

Economia dos blogs

A próxima pergunta importante é se os blogs podem ganhar dinheiro tornando-se uma plataforma substancial de anúncios. Enquanto os bloggers até agora relutaram em dizer publicamente que receita seus sites geram, parece que a maioria ainda precisa ter outros empregos para pagar as contas. Em uma entrevista ao New York Observer, Nick Denton, o anfitrião e editor da Gawker Media (descrito por Arianna Huffington com o "Rupert Murdoch da blogosfera"), disse que cobrava US$ 4 por cada mil aparições, ou page views, de um anúncio. Se o blog recebesse, digamos, 5,5 milhões de page views por mês, isso daria US$ 22 mil em receita mensal.

Mas quantos blogs realmente geram 5,5 milhões de page views por mês? Como disse David Hauslaib, fundador de Jossip and Queerty, à revista Wired, "no mínimo, um blogger solitário provavelmente precisará atrair um volume de quatro a cinco dígitos de visitantes diários para ter um salário capaz de sustentá-lo". O número de blogs que recebem milhares ou dezenas de milhares de visitantes únicos é realmente pequeno.

Existe crescente evidência, porém, de que os blogs têm o potencial de se tornar um investimento mais atraente para os anunciantes, ao se integrarem mais à mídia corporativa. Isso apresenta um dilema para os bloggers, muitos dos quais desejam continuar praticando uma forma de jornalismo exclusivamente baseada na cidadania, que é sua essência.

Em outubro, a AOL anunciou que havia adquirido a Weblogs Inc., que publica quase 90 blogs, por cerca de US$ 15 milhões e possivelmente até US$ 25 milhões se a Weblogs atingir certas metas de desempenho. A aquisição foi considerada uma medida da AOL para aumentar seus números gerais de audiência e dar aos marqueteiros a oportunidade de atingir mercados de nicho na rede. Outros "coletivos" de blogs surgiram nos últimos anos, notadamente Gawker Media, Weblogs Inc. e B5 Media.

E os anunciantes estão curiosos. No início de 2005, uma pesquisa da Forrester Research mostrou que 64% dos marqueteiros nacionais disseram estar interessados em colocar anúncios em blogs.

Como foi sugerido antes, nem todo blogger está tão ávido para lucrar com a aquisição da AOL, assim como a decisão de Andrew Sullivan de levar seu blog para a Time.com criou uma comoção na comunidade de bloggers. Denton teme que as grandes companhias de mídia destruam o espírito independente e comunitário que os bloggers acreditam diferenciá-los da mídia dominante, que chamam de MSM (mainstream media): "Toda a diferença dos blogs é que eles não fazem parte da grande mídia", disse Denton ao Washington Post. "A consolidação destrói esse objetivo. É cedo demais. Mais ou menos uma década cedo demais". Em novembro, o Yahoo anunciou que está usando informações de alguns membros da equipe de blogging da Gawker, mas Denton enfatizou que o conteúdo do blogs será apenas licenciado, e não vendido.

Outros, porém, pensam que a maioria dos blogs inevitavelmente será obrigada a encontrar um modelo empresarial. Nas palavras de Edward Wasserman, professor de jornalismo e ética na Universidade Washington and Lee, "em toda parte a Internet está se transformando no instrumento de marketing mais habilmente calibrado desde que se inventou o dinheiro dobrável. Toda a lógica da comercialização garante uma plataforma privilegiada para o que movimenta os produtos. Essa lógica cria ao mesmo tempo ruídos e silêncios, grandes lucros e custos reduzidos. É por isso que nada é de graça".

 

O Katrina e a Internet

Não é mais segredo que os desastres atraem multidões para a web. O tsunami no oceano Índico em dezembro de 2004 e os atentados a bomba em Londres em julho de 2005 causaram uma comoção de atividade online, com conteúdo produzido por cidadãos em primeiro plano. Os blogs de relatos de testemunhas, fotografias digitais e vídeos amadores forneceram reportagens e reações do local inéditas. Quando o furacão Katrina arrasou a costa do Golfo, no final de agosto de 2005, a web estava novamente pronta para comparecer. O que diferiu dessa vez -- com pouco conteúdo produzido por cidadãos da Louisiana e do Mississípi, os estados mais atingidos -- foi que a mídia dominante assumiu a liderança. Jornais e estações de TV da região abriram blogs para fornecer atualizações constantes de campo.

Algumas organizações de notícias americanas também permitiram que os bloggers criassem seções em seus sites ou links para bloggers que enviavam informações de suas comunidades. Essa prática seguiu o exemplo da BBC, que fez o mesmo para bloggers e vloggers durante sua cobertura do tsunami e dos atentados em Londres.

Reconhecendo o enorme interesse pela história do Katrina, os canais de mídia aberta encheram seus arquivos com gravações da tempestade. Na segunda-feira depois que o furacão atingiu a terra, visitantes da CNN.com baixaram mais de 9 milhões de videoclipes. Uma semana depois, o número total havia superado 35 milhões. A MSNBC.com se saiu ainda melhor, com um recorde de 50 milhões de clipes baixados em uma semana. O WWL Channel 4, único canal local que permaneceu no ar, ofereceu um Webcast ao vivo de sua cobertura.

O jornal New Orleans Times-Picayune surgiu como uma organização-símbolo pelo uso da Internet. O jornal foi obrigado a interromper a publicação de sua versão impressa depois do furacão e passou para a web, onde publicou edições online durante alguns dias. Além dos blogs atualizados pela redação e arquivos de fotos, o Nola.com criou fóruns de bairros para permitir que os evacuados e suas famílias se conectassem e compartilhassem as informações sobre parentes e seus bairros. O tráfego em agosto no Nola.com aumentou 277%, comparado com julho.

O guru da Internet Jeff Jarvis, que tem um blog em BuzzMachine.com, escreveu em uma coluna no Guardian: "Acreditem em mim: antes do Katrina, os editores de jornais americanos não falavam assim sobre a web e os weblogs. Mas depois do Katrina vão falar".

Outras grandes organizações de mídia aproveitaram o poder da web para documentar a magnitude da tempestade -- o New York Times produziu gráficos interativos detalhados, enquanto o Washington Post trouxe simulações da Nasa mostrando Nova Orleans inundada. O interesse pela tempestade foi tão grande que até o site do Weather Channel registrou números recordes de visitantes.

Logo depois da tragédia, o jornalismo criado por cidadãos também estabeleceria sua presença. Marcos da nova mídia como os blogs, a enciclopédia Wikipedia, que é produzida pelos usuários, e até o gigante dos classificados online Craigslist mais uma vez responderam ao desafio. Com base numa experiência anterior durante o tsunami, a Wikipedia criou um portal Katrina que era um centro de intercâmbio de notícias e informações de resgate. O Craigslist criou categorias especiais de classificados: moradias temporárias, listas de voluntários e achados e perdidos. O serviço de fotos Flickr, propriedade do Yahoo, permitiu que os usuários examinassem milhares de imagens procurando por meio de "tags" (etiquetas) ou palavras-chaves associadas às fotografias. Em novembro de 2005 mais de 15 mil fotos tinham a etiqueta "furacão Katrina".

Muitos blogs não pertencentes à mídia, como Metroblogging New Orleans, ofereceram de tudo, desde relatos da tempestade, comentários sobre as notícias e críticas aos esforços de socorro. Sites da web que rastreiam blogs como o Technorati, que tinha quase 27 milhões de sites indexados em janeiro de 2005, ofereceram listas separadas de publicações ligadas ao Katrina.

Os desafios de reportagem causados pelos ventos e a inundação mostraram que o dinossauro que o mundo online chama de MSM pode navegar no reino digital e ainda até definir o padrão. Depois da ascensão dos blogs em 2004, o conteúdo produzido por cidadãos deveria dominar 2005, segundo alguns esperavam. Em vez disso, as organizações noticiosas da corrente dominante se adiantaram e misturaram reportagem tradicional com a nova tecnologia. E ao fazê-lo, como no caso do Katrina, se posicionou no topo.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Versão original:
http://www.stateofthemedia.org/2006/narrative_online_intro.asp?cat=1&media=4