Jornalismo online nos EUA - 2006 - Investimento em jornalismo

Investimento em Jornalismo

Conforme a audiência e as verbas de publicidade migram para a web, há evidências de que as organizações noticiosas, tanto tradicionais quanto não-tradicionais, estão finalmente investindo mais pesadamente em suas novas plataformas online. E certamente sua retórica se destina a mostrar a Wall Street que elas entendem que é aí que está seu futuro.

Um exame mais atento, porém, sugere que é sábio continuar levantando perguntas. Os investimentos estão sendo canalizados para melhorar o conteúdo jornalístico? A inovação é em jornalismo ou principalmente em tecnologia? As empresas jornalísticas têm vocação para fazer o tipo de inovações que as manterão como líderes do jornalismo no novo século? E as empresas de jornalismo maduras receberão margem de manobra dos acionistas para fazer o tipo de investimento e aposta que suas rivais de alta tecnologia -- que estão roubando sua audiência e sua publicidade, mas não produzem o conteúdo -- estão sendo capitalizadas para fazer?

Uma questão que abordamos no relatório do ano passado foi a natureza desse investimento. Examinando os principais atores, ele parece estar assumindo duas formas.

Uma é o investimento em pessoal -- para obter mais informação, fazer mais reportagens originais, sintetizar material que já está no domínio público.

A outra é o investimento em tecnologia, para melhorar a obtenção, triagem e disseminação de notícias e informação ao consumidor.

Para muitos sites de notícias, uma combinação das duas coisas talvez fosse melhor. Sites de canais tradicionais de notícias como o New York Times ou a CNN.com oferecem um bom volume de reportagem original, o que exige um investimento significativo e contínuo em jornalistas. Mas esse sites também estão trabalhando para oferecer a reportagem da maneira mais usável, especialmente para a web, e isso exige um investimento em pessoal não-jornalístico e tecnologia do tipo que as empresas de nova tecnologia estão fazendo.

Até agora -- e há algumas exceções -- pode ser que os investimentos em pessoal não estejam acompanhando os gastos de capital em tecnologia e software, o que não melhora necessariamente a qualidade da reportagem. O desafio pode ser ainda maior nos próximos anos, porque as organizações noticiosas que empregam pessoal que produz conteúdo para sites jornalísticos fizeram grandes cortes em suas equipes nos últimos anos.

Enquanto isso, outros sites como o Google e Yahoo não fazem reportagem original ou apenas começaram a publicar conteúdo original, de forma muito limitada. Seu serviço é geralmente ajudar o usuário a escolher o que já existe e afinal encontrar a informação relevante.

Para ter uma percepção mais completa do compromisso dos grandes atores com a informação de qualidade, vamos examinar dois dos principais tipos de fornecedores de notícias online: os produtores de notícias tradicionais e os agregadores de notícias não-tradicionais.

 

Produtores de notícias tradicionais

Ao contrário da televisão e dos jornais locais, que coletam estatísticas do setor sobre níveis de funcionários, existem poucos dados disponíveis para quantos jornalistas trabalham no jornalismo online. Muitos sites com conteúdo original de notícias principalmente reproduzem matérias de suas plataformas irmãs. O Washingtonpost.com, por exemplo, pode publicar matérias diretamente tiradas do jornal, usando assim o mesmo repórter em ambas as plataformas.

Para os canais de televisão, a passagem é um pouco mais complicada, pelo menos por enquanto. As matérias produzidas para a CNN, por exemplo, normalmente são colocadas em forma de texto em seu website. Mesmo aqui, porém, o trabalho adicional é mínimo e a matéria é geralmente publicada sob o crédito do mesmo correspondente.

Claramente, muitas organizações noticiosas ainda consideram a operação online como uma derivação de sua plataforma "primária". Isso faz certo sentido, já que a maioria das empresas online ainda não podem se sustentar financeiramente (embora isso possa mudar). Também sugere que qualquer corte de pessoal no ramo de reportagem afeta muito a capacidade de reportagem online.

Muitos sites tradicionais de notícias começaram a experimentar oferecendo conteúdo mais baseado nos cidadãos. O nível de experimentação variou. O News & Record, jornal diário de Greensboro, Carolina do Norte, foi incentivado por sua proprietária, Landmark Communications, a "se libertar" do método convencional de obtenção de notícias. O site do News & Record oferece uma praça de cidade virtual completa, com blogs sobre notícias, esportes, religião, culinária e música. O site também oferece uma oportunidade para os cidadãos enviarem suas próprias reportagens, que são apenas ligeiramente editadas para eliminar erros de gramática e ortografia.

Como uma forma de testar novas águas a uma distância mais confortável, outras organizações noticiosas tradicionais experimentaram se associar a sites baseados em tecnologia que já estão fazendo mais reportagem experimental. A Knight Ridder, por exemplo, lançou o SiliconValley.com no início de 2001. O site oferece aos leitores uma variedade de ferramentas interativas, incluindo blogs e diversas mesas-redondas virtuais.

Em 2005, um site que tomou medidas para tornar seu conteúdo mais parecido com uma praça pública mas reforçou seu compromisso e prioridade com os postulados clássicos do jornalismo foi o CBSNews.com.

 

CBS News

Por enquanto, parece que a CBS News investiu mais em sua operação na web do que a maioria das organizações de notícias tradicionais.

No verão de 2005, num momento em que os noticiários das redes de televisão continuavam sofrendo índices de audiência cada vez menores, o CBSNews.com anunciou que ia repensar seu papel como fornecedora tradicional de notícias na televisão e no rádio e começar a transferir grande parte de seu conteúdo para a Internet. O presidente da CBS Digital, Larry Kramer, que fundou a MarketWatch.com, previu de maneira audaciosa que a medida minaria o modelo existente de noticiário das redes de televisão a cabo porque atenderia ao crescente hábito dos consumidores de notícias online de procurar notícias durante o dia no computador.

A mudança aconteceu. A CBSNews.com reformulou seu site, construindo-o ao redor de três princípios básicos que os entusiastas consideraram a promessa da Internet: transparência, interatividade e capacidade multimídia.

Um dos principais componentes do novo visual do CBSNews.com é um blog dirigido por Vaughn Ververs chamado "Public Eye" [Olhar do Público]. O blog de Ververs pretende esclarecer o processo de obtenção de notícias na CBS News, e o site ofereceu webcasts de reuniões editoriais. A NBC e a ABC também estão oferecendo sites que revelam como são produzidas as notícias nas grandes redes.

Em uma entrevista ao CJR Daily, uma filial de crítica de mídia online da Columbia Journalism Review, Kramer deu um exemplo do que significa maior transparência:

"A outra coisa [que Ververs] fará é explicar ativamente como a CBS trabalha. E isso quer dizer que ele vai entrar e poderá decidir um dia gravar em vídeo a reunião de pauta para o noticiário da noite -- às 10 da manhã eles se reúnem e falam sobre o que provavelmente estará no noticiário da noite --, e dar às pessoas uma visão de como essas decisões são tomadas. E mostrar os editores vendendo as matérias e dizendo: 'Já temos isso, devemos colocar isso aqui, vamos gastar nosso tempo nisto'."

Public Eye também tenta tornar a experiência de notícias online mais interativa, servindo de ligação entre leitores e repórteres da CBS. Andrew Heyward, então presidente da CBS News, chegou a criar um novo título para Ververs: "nonbudsman". Ververs deveria observar o que a comunidade online estava dizendo sobre a CBS News, depois passar essas críticas para a administração e os novos correspondentes, que por sua vez dariam a Ververs suas explicações para serem publicadas no blog do Public Eye.

Alguns críticos dizem que a medida da CBS foi tomada mais para restabelecer a credibilidade da organização de notícias, que foi manchada durante o incidente "Memogate" em setembro de 2004 -- especialmente entre os bloggers -- do que para inovar na obtenção de notícias.

A CBS, no entanto, também tentou investir na capacidade multimídia da web. Kramer afirmou que no novo universo digital 24 horas por dia, os usuários vão querer suas notícias o tempo todo, especialmente no trabalho, onde o crescimento da banda larga criou mais oportunidades para consumo de notícias em vídeo. Por meio de um reprodutor de vídeo chamado The EyeBox, os usuários poderiam percorrer 25 mil vídeos novos e de arquivo. Os usuários também poderiam construir seu próprio noticiário, e a CBS pretende oferecer programação em vídeo diária e semanal de Bob Schieffer, John Roberts, Hannah Storm e outros. Também se falou em enviar equipes em campo para gravar vídeos de bloggers que têm comentários especialmente valiosos sobre os novos produtos da organização.

O investimento não se limitou à tecnologia. Em julho, Heyward e Larry Kramer da CBS Digital disseram que pretendiam expandir as equipes editoriais da CBSNews.com, assim como os recursos totais da CBS News.

As reações da blogosfera ao lançamento de Public Eye foram geralmente positivas (Fonte: "Eye on CBS", American Journalism Review, outubro/novembro de 2005). Mas alguns bloggers criticaram a decisão de editar os comentários e publicações dos leitores -- o que viola o protocolo ortodoxo do blogging. Jay Rosen, um professor de jornalismo na Universidade de Nova York que tem um blog sobre a indústria de mídia noticiosa, disse esperar que o movimento para uma maior transparência acabasse melhorando a qualidade da programação de notícias das redes, mas ele continuava bastante cético.

Resta uma questão importante para as outras organizações de notícias que consideram a estratégia da CBS um arauto do que virá a seguir. Como disse Kramer ao CJR Daily, o site foi amplamente financiado pela receita da televisão, mas ele esperava ganhar dinheiro com o lucrativo mercado de publicidade online. Essa é uma estratégia viável em longo prazo, se os índices de audiência da televisão continuarem caindo e a receita de publicidade na TV secar? Mais uma vez, a questão de um modelo empresarial estável para a web continua ameaçando o universo das notícias online.

 

Agregadores de notícias não-tradicionais

Google News e Yahoo News são atualmente os dois sites de notícias mais populares, segundo dados da Nielsen//Net Ratings. Enquanto ambos muitas vezes são citados juntos como os dois empreendimentos de maior sucesso na Internet, eles adotaram abordagens diferentes em suas operações de notícias. Talvez as estratégias diferentes reflitam como cada companhia vê a si mesma: uma é uma companhia de tecnologia e a outra uma companhia de mídia. Decidimos examinar abordagem de cada uma ao investimento em jornalismo.

 

Google News

Antes do 11 de Setembro, a Google não se considerava nada mais que a maior máquina de buscas do mundo. Pouco depois dos atentados, porém, milhões de americanos entraram na web para obter informações mas não conseguiram acessar os sites de notícias tradicionais como CNN.com e ABCNews.com devido ao grande aumento do tráfego. Muitos recorreram ao Google como alternativa. Embora na época não existisse uma página de "Google News", ele oferecia links para os principais sites de notícias como Washington Post e BBC. Também tinha links para versões em "cache" de reportagens anteriores feitas pelas principais organizações noticiosas online -- sua primeira tentativa de produzir um produto editorial. Pouco depois de notar o valor desses links durante o frenesi de notícias em 11/9, o Google acrescentou em sua homepage um link "Notícias e Recursos". E em 2002 a Google News tornou-se parte da experiência de notícias online para um número crescente de pessoas nos EUA e ao redor do globo.

A Google News não usa editores humanos, mas um algoritmo que percorre mais de 4.500 fontes de notícias do mundo inteiro e depois as classifica com base em diversos fatores, incluindo a freqüência com que aparecem em outros lugares da Internet. Embora a Google News promova a si mesma como um agregador de notícias não-subjetivo, ainda depende da avaliação editorial de outras organizações noticiosas online para classificar as páginas mais populares do mundo.

Para ter êxito como agregador de notícias, o Google conta com sua enorme largura de banda, que, é claro, foi uma vantagem importante depois do 11/9. Segundo John Battelle, autor de "The Search: How Google and Its Rivals Rewrote the Rules of Business and Transformed Our Culture" [A busca: Como o Google e seus rivais reescreveram as regras empresariais e transformaram nossa cultura], a máquina de buscas do Google é movida por mais de 175 mil computadores -- mais que todos os que existiam no planeta nos anos 70.

Em seu empenho para acrescentar continuamente sites de notícias ao seu rastreador, o Google precisa expandir sua largura de banda. Expandir e manter essa enorme largura de banda exige um exército de engenheiros -- sendo engenharia a formação acadêmica dos dois fundadores da empresa -- e consultores de tecnologia, e o software mais sofisticado para manter o motor rodando, em vez de repórteres para produzir notícias originais. E isso está no coração do investimento em notícias do Google: software, hardware e engenheiros para manter o motor de buscas que publica as matérias de outras organizações noticiosas em vez de um investimento em repórteres e editores para produzir notícias.

 

Yahoo News

Assim como a Google News, a Yahoo News principalmente agrega material de outras organizações como Associated Press, Reuters e Los Angeles Times. E enquanto a Yahoo News depende de um pequeno número de editores humanos -- e não de um algoritmo de computador como a Google -- para publicar as notícias no site, não publicava tradicionalmente conteúdo de notícias original. Mas isso começou a mudar em 2005.

De modo geral, a Yahoo não se considera exclusivamente uma empresa de tecnologia, o que a Google é geralmente considerada. Segundo alguns analistas, a Yahoo quer se tornar a primeira e última escala para o visitante online. Como foi noticiado no New York Times em setembro de 2005, a nova estratégia da Yahoo é considerar-se uma versão online da Time Warner, misturando conteúdo original e distribuição. Essa estratégia, segundo o Times, é construída em torno de quatro "pilares":

• Aumentar as capacidades de sua máquina de busca.

• Criar uma comunidade de blogs e repórteres civis que podem publicar suas próprias idéias e fotografias.

• Produzir conteúdo original, incluindo cobertura de notícias.

• Desenvolver tecnologia de personalização que permita aos usuários percorrer o aparentemente interminável número de opções disponíveis no universo online, incluindo vídeo, em que a Yahoo tenta competir com a Google e a Microsoft.

Muitos na indústria estão observando se Lloyd Braun pode colocar a Yahoo onde ela pretende. Em novembro de 2004 a Yahoo contratou Braun para chefiar seu Grupo de Mídia. Braun havia servido antes como presidente do Grupo de Entretenimento em Televisão da ABC. Durante seu trabalho na ABC, Braun iniciou e supervisionou o desenvolvimento de séries de televisão de grande sucesso como "Aliás", "Lost" e "Desperate Housewives". Seu papel na Yahoo tem sido supervisionar todos os aspectos comerciais e criativos das propriedades de conteúdo da Yahoo, incluindo notícias.

O primeiro projeto de notícias original de Braun foi contratar Kevin Sites, um repórter veterano da televisão, para fazer a reportagem sobre as diversas guerras ao redor do mundo. O blog de Sites adota a qualidade multimídia da web: blog, vídeo, comentário em áudio, bate-papos, ensaios de fotos. Além disso, Sites disse que ele considera o site uma oportunidade de assumir a transparência, há muito defendida como uma vantagem do jornalismo online. O programa de Sites foi lançado em setembro de 2005.

A Yahoo também acrescentou comentários esportivos exclusivos e em setembro começou a oferecer colunas originais em sua página de notícias financeiras, incluindo uma da popular autora financeira Suze Orman, que aparece regularmente na CNBC. E no final de outubro a Yahoo anunciou que tinha assinado um acordo de conteúdo original com The Week, uma revista de notícias semanal, e começaria a publicar um resumo diário de notícias econômicas impressas e online na página de finanças da Yahoo.

Embora a Yahoo tenha dado os primeiros passos no sentido de publicar seu próprio conteúdo de notícias, será interessante ver como essa identidade mista se desenvolve em 2006 e mais tarde. Os consumidores vão recorrer à Yahoo para reportagens originais, em vez de fornecedores mais estabelecidos? A Yahoo vai ter sucesso em uma mistura, ou afinal deixará de alcançar a perícia em ambas as frentes? Ela vai inspirar outros a fazer o mesmo, contratar repórteres reais que podem publicar seu próprio jornalismo tecnológico? São áreas que vale a pena observar em 2006.

 

Web vídeo

Em 2005 havia sinais de um maior investimento em vídeo online.

Por enquanto, a publicidade em vídeo online -- embora crescente -- permanece um fator menor. A firma de pesquisas de mercado Broadband Enterprises estima que US$ 200 milhões serão gastos em anúncios em vídeo na Internet em 2005, contra US$ 75 milhões em 2004. O número é pálido em comparação com os US$ 65 bilhões gastos em anúncios na televisão aberta e a cabo, mas está crescendo depressa. Pode ser que os sites de notícias que estejam numa fase experimental, esperando para ver se as audiências se habituarão a assistir noticiários em vídeo na Internet.

Em 2005 a CBS News não foi a única organização noticiosa a começar a oferecer mais notícias em vídeo em seu site. Depois que sua estratégia de acesso só para assinantes foi implementada em 2003, a CNN anunciou na primavera de 2005 que começaria a oferecer alguns vídeos de graça online. Ela continuará cobrando pela maior parte deles, através de um canal de notícias online conhecido como Pipeline, onde os usuários podem se inscrever por uma taxa anual, mensal ou até diária, de US$ 0,99 por dia.

Em julho, a Associated Press anunciou que lançaria uma rede de notícias em vídeo online para seus sites de jornal, televisão e rádio nos EUA. Depois, em novembro, a Microsoft anunciou que desenvolveria a rede de vídeo online da AP e dividiria a receita de publicidade gerada pelos sites de notícias de jornais e TV que distribuem o vídeo. Especificamente, o papel da MSN seria fornecer o software para reproduzir o vídeo e apoio técnico. Além disso, venderia publicidade.

E as rivais da CBS ficaram mais sérias sobre o vídeo online em 2005. A MSNBC.com anunciou que começaria a publicar todo o noticiário de TV "NBC Nightly News" em vídeo, mas os anúncios da TV não seriam transferidos para a versão online. Uma porta-voz do site da web, porém, discutiu a possibilidade de vender anúncios que apareceriam no programa de TV e no webcast. No final do ano passado, a MSNBC.com anunciou que também disponibilizaria o programa "Meet the Press" em vídeo "on-demand" [sob encomenda]; o modelo de vendas de publicidade ainda não estava pronto em dezembro de 2005.

E em janeiro de 2006 a ABC News também anunciou um projeto semelhante para apresentar seus novos âncoras, Elizabeth Vargas e Bob Woodruff.

Existem muitos obstáculos à frente. O crescimento em vídeo está ligado ao crescimento em banda larga. Outra barreira para um uso mais freqüente, segundo a pesquisa, é a exposição: mais da metade dos americanos (52%) disseram que não assistem mais vídeo porque não sabiam de sua disponibilidade. A maior questão, porém, é provavelmente se os consumidores gostam de assistir vídeo online, não apenas em computadores mas em iPods, telefones e PDAs. Ou o vídeo simplesmente é melhor na televisão?

 

Outros investimentos em tecnologia

Talvez o investimento mais significativo que as companhias de mídia fizeram no último ano ou pouco mais é na distribuição e comercialização de notícias (em texto e em vídeo) em tecnologias sem fio. Cada vez mais notícias, especialmente últimas notícias, estão disponíveis em telefones celulares e assistentes digitais pessoais (PDAs), como o BlackBerry, que podem acessar a Internet através de uma conexão por tecnologia WiFi, celular ou Bluetooth.

Um exemplo de como a tecnologia sem fio permitiu que as notícias se tornassem mais portáteis e "on-demand" pode ser visto na parceria de multimídia entre a V Cast da Verizon e a CBS News. Os assinantes podem ver em seus celulares matérias de última hora e segmentos do noticiário da noite da CBS. "Na intersecção dos telefones celulares com a televisão está a promoção de programação e potencial de extensão de marca. Este negócio com a Verizon Wireless representa um grande passo para nós no entretenimento móvel e mais um ponto de contato com o consumidor para promover nossas marcas de grande conteúdo", disse Cyriac Roeding, vice-presidente de tecnologia sem fio da CBS Digital Media.

Vários sites de notícias online também continuaram investindo em software na tentativa de tornar seus produtos de notícias mais atraentes aos consumidores "on demand" e permitir mais oportunidades para o jornalismo de cidadãos. Em 2005 duas novas atrações que aumentaram a discussão do jornalismo cidadão e "on demand" foram os "wikitorials" e os podcasts.

"Wikitorials" são "comunidades online que incentivam os usuários a escrever e editar artigos de modo coletivo". A palavra "wikitorial" vem do havaiano "wiki wiki", que significa "rápido". O Los Angeles Times foi uma organização noticiosa que experimentou os wikitorials no ano passado, e o resultado pode ser visto como um passo em um processo experimental ou algo embaraçoso. Depois de permitir que os leitores respondessem e até reescrevessem os editoriais do jornal, o site foi invadido por obscenidades e fotos pornográficas, e então suspenso.

"Podcasting" é uma maneira de distribuir programação de áudio e vídeo na web que difere da publicação anterior de áudio e vídeo porque o material é automaticamente transferido para o computador do usuário e pode ser consumido a qualquer momento, geralmente em um iPod ou outro tipo de reprodutor de música digital portátil, conhecidos comumente como "tocador de MP3".

Os sites de notícias que começaram a oferecer podcasts em 2005 incluíam Denver Post, the Seattle Post-Intelligencer, Forbes e Washington Post. Uma pesquisa estimou que 4,8 milhões de pessoas haviam baixado um podcast de uma estação de rádio ou outra fonte de em 2005 -- 485% a mais que em 2004. O estudo também descobriu que 20% dos "podcasters" fazem downloads em base semanal.

Os investimentos em wikitorials e podcasts são relativamente baratos. Por exemplo, o Wall Street Journal relatou que o Philadelphia Daily News gastou "apenas algumas centenas de dólares" em microfones, um mixer de áudio e software de gravação quando lançou seu podcast. Também há muito poucas evidências de que as organizações de notícias tenham aumentado o número de funcionários editoriais. Em vez disso, parece que a equipe de redação existente foi usada ou o trabalho foi terceirizado, como quando o Denver Post contratou estudantes universitários para gravar e editar os podcasts de seu site. Uma questão premente para 2006, é claro, é se será possível gerar receita com essas novas espécies de noticiários online.

 

Tecnologia de banda larga

Durante anos os especialistas afirmaram que o futuro da audiência e da economia do jornalismo online dependeria do desenvolvimento da tecnologia de banda larga. Com a banda larga virão velocidade, vídeo, mais interatividade, melhores gráficos e muito mais.

O que é banda larga? Uma resposta simples é: Internet em velocidade maior.

As conexões em banda larga geralmente usam um modem a cabo ou DSL (linha de assinante digital) que juntos formam cerca de 95% do mercado de banda larga residencial e de pequenas empresas.

Mas deve-se notar que o que muitas vezes se chama de banda larga nos EUA é quase um termo genérico para qualquer conexão mais rápida que a discada. Em muitos outros países desenvolvidos, em comparação, a banda larga refere-se a conexões muito mais rápidas com maior capacidade. A maneira francamente vaga como a banda larga é definida na maioria das discussões nos EUA, segundo alguns críticos, obscurece tanto a demanda quanto seu potencial.

Quantos americanos estão acessando a Internet por uma conexão em banda larga? Os dados variam sobre o número exato, mas estão claramente crescendo e com predominância no local de trabalho do que em casa. Para uso residencial o número varia de 33% a 48% da população, dependendo da pesquisa. (O Projeto Pew sobre a Internet relatou que em dezembro de 2005 72 milhões de americanos, ou 61% dos que acessam a Internet em casa, tinham conexões de alta velocidade em casa. Em junho de 2000 eram 5 milhões de americanos.)

No local de trabalho o acesso em banda larga parece ser ainda maior. A Pew Internet relata que 70% dos usuários de Internet empregados usam uma conexão de alta velocidade no trabalho, comparados com apenas 10% que usam conexão discada. Os demais dizem não saber que tipo de conexão têm no trabalho.

Embora o uso da banda larga nos EUA esteja crescendo, continua muito atrás de outras partes do mundo, especialmente a Ásia e a Europa Ocidental, e há sinais de que o crescimento em outras regiões está superando o crescimento nos EUA. Segundo dados de dezembro de 2004 publicados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os EUA caíram duas classificações desde 2003 e hoje estão em 12º lugar em número de assinantes de banda larga.

Além disso, há motivos para acreditar que o crescimento poderá diminuir nos próximos anos. A Kagan Research projetou um crescimento de 9,3 milhões de assinantes de banda larga em 2005, contra 9,5 milhões em 2004.

Um crescimento mais lento é significativo por causa das ramificações econômicas para a indústria online. Várias pesquisas sugerem que os usuários de banda larga têm maior probabilidade que os usuários de conexão discada de realizar estas atividades online: freqüentar mais páginas de notícias; baixar mais vídeo; gastar mais dinheiro; passar mais tempo online; jogar; fazer serviços bancários; usar máquinas de busca; acessar informações de produtos; acessar informações financeiras; realizar pesquisa relacionada ao trabalho; navegar por diversão; acessar informações sobre o tempo; acessar informações sobre esportes; obter habilitação ou treinamento para ajudar em seus empregos.

O uso de vídeo online deverá crescer conforme a penetração da banda larga aumentar. Até agora parece que o uso de vídeo online regular se limita a uma porcentagem muito pequena da população total, e enquanto os gastos nele continuam crescendo ainda é uma plataforma de mídia nascente para os publicitários.

Além dos investimentos em vídeo online, existem implicações econômicas ainda maiores para o aumento da penetração da banda larga. Uma estimativa é que a adoção "generalizada" do acesso em banda larga criaria 1,2 milhão de novos empregos e acrescentaria até US$ 500 bilhões à economia americana.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Versão original:
http://www.stateofthemedia.org/2006/narrative_online_intro.asp?cat=1&media=4