Jornalismo Digital: topografia dos sites de notícias

 

O site do jornal, começou o relatório interno, já estava com 10 anos. "Sua estratégia declarada era ser um varejista de informação indispensável", completo com "notícias, listagens, críticas, banco de dados" e mais.

"Esta visão não se concretizou", declarou o altamente esperado "Spring Street Project" do Los Angeles Times em dezembro de 2006.

"O Latimes.com é virtualmente invisível dentro da grande Los Angeles. Em certos aspectos, o site está perdendo tração mais rapidamente do que o jornal."

Por quê? "Pessoal inadequado, tecnologia decrépita", links mortos, atualizações pouco freqüentes, falta de interatividade com os leitores e mais, muito mais, concluiu o relatório. Quando o jornal eliminou a maioria das listagens diárias de ações em seu jornal impresso, por exemplo, os sites se recusaram a comprar software que permitiria aos usuários o acompanhamento de seus portfólios de ações online

A lista de razões para os problemas representavam um indiciamento do pior da burocracia: choque de culturas, falta de investimento, balcanização política, divisão corporativa, tecnologia ultrapassada.

O Spring Street Report foi o fruto de um esforço extraordinário do ex-editor do Times, Dean Baquet. Enquanto enfrentava a dona do jornal, a Tribune Company em Chicago, contra cortes que ele considerava inapropriados, Baquet lançou uma equipe de seus melhores repórteres para investigar o futuro do Times -na prática transformando sua redação em uma unidade de pesquisa e desenvolvimento. Se o jornalismo precisa mudar, indicou o esforço, os jornalistas devem estar envolvidos em sua reinvenção.

Para pessoas de fora, o relatório representava uma avaliação interna incomumente franca de uma grande operação de notícias enquanto lutava para fazer a transição para a era digital. Muitos outros sites de notícias, apontou o relatório na avaliação do campo de forma geral, estavam muito à frente do Times.

Qual é o estado do jornalismo digital? Que progressos os sites estão fazendo na exploração do potencial da Internet de ir além do que qualquer meio tradicional pode oferecer? Que capacidades de Internet os sites estão desenvolvendo e quais não?

Nos últimos anos, nosso relatório sobre o State of the News Media ofereceu vislumbres ao examinar um punhado de sites de diferentes setores da mídia a cada ano, geralmente notando o design das páginas e o tratamento dado às histórias principais.

Para ir mais fundo, neste ano o Projeto realizou um exame detalhado da estrutura e características de mais de três dúzias de sites na Internet de uma variedade de fontes de notícias -redes de TV, emissoras locais e por cabo, jornais, rádio, veículos apenas online e mídia do cidadão.

A meta era primeiro identificar que características os sites de notícias estavam desenvolvendo online e quais não.

A segunda era determinar se os sites poderiam ser classificados como grupos, em uma espécie de tipologia, ou se o campo ainda estava fluido ou embrionário demais.

Entre as conclusões:

  • Os sites se desenvolveram além de seu meio de origem. Em caráter, muitos sites de notícias atualmente cruzam meios, histórias, tamanho de audiência e estrutura editorial. O site do New York Times, por exemplo, tem pontos fortes diferentes e um caráter notadamente diferente do que os do site do Washington Post. O site da CBS News é notadamente diferente em seus pontos fortes do site da ABC. Alguns sites de mídia do cidadão têm processos e padrões editoriais distintos.
  • Os sites de notícias parecem estar explorando acima de tudo duas áreas da Internet: o branding editorial, ou o estabelecimento de uma identidade própria por meio de conteúdo original e um processo editorial distinto; e o potencial dos usuários personalizarem a informação, particularmente por meio de entrega de conteúdo móvel. Mais sites ganharam notas altas por promoverem conteúdo original e uma marca única do que qualquer outra característica que estudamos. De fato, a noção de que a Internet é dominada pelos jornais de ontem, material de agências de notícias, opiniões e rumores é cada vez mais uma simplificação exagerada.
  • Os sites fizeram o mínimo para explorar o potencial da Internet de aprofundamento -de enriquecer a cobertura oferecendo links a documentos originais, material complementar, cobertura adicional e mais. Isto sugere que colocar as coisa em contexto, ou melhorar a compreensão da informação disponível, é uma área da Internet em que os jornalistas ainda precisam trabalhar. Esta deficiência pode expor a tensão entre o jornalismo ao estilo antigo, que enviava os repórteres para escreverem histórias, e a agregação baseada em tecnologia, que reúne estas histórias e as liga por meio de um algoritmo de computador. Adicionar um aprofundamento real a uma cobertura provavelmente exige pessoal para associar fontes de informação relevantes e para ajudar os consumidores a navegarem e se aprofundarem por conta própria.
  • O jornalismo digital também não explora plenamente o potencial de participação dos usuários por meio de comentários e do acréscimo da voz deles à informação. A noção de que a Internet é um local para as pessoas se tornarem prossumidores, simultaneamente consumidores e produtores de informação em algum tipo de conversa, é provavelmente a esta altura um exagero.
  • Apenas poucos sites apresentam excelência em múltiplas áreas de potencial de Internet. Apenas quatro dos que analisamos ganharam notas altas em três das cinco categorias de conteúdo estudadas. A maioria apresentou excelência em apenas uma ou duas.

Para tornar isto mais útil, nós criamos uma área interativa onde os usuários podem sondar nossas conclusões, olhar mais atentamente a classificação dos sites em certas categorias e comparar os sites entre categorias. Nós também discutimos as conclusões gerais e o oferecemos os perfis de cada site.

A Internet está evoluindo constantemente e os sites mudam com freqüência. Mesmo enquanto escrevemos este relatório, vários sites estudados passaram por algumas mudanças e muitos outros certamente passarão ao longo do próximo ano. Desta forma, este estudo não visa ser um retrato duradouro do que cada site tem a oferecer, mas sim uma ferramenta chave para um panorama das opções. A topografia é diversa. Nossa esperança é que esta ferramenta venha a ajudar os usuários a entenderem melhor a Internet e os distribuidores de notícias a melhor definirem o que desenvolveram até agora e onde poderão querer investir adiante.

Sobre o Estudo

O estudo examinou de perto 38 sites de notícias diferentes em setembro de 2006 e novamente em fevereiro de 2007. Os sites foram escolhidos a partir de uma mistura de sua mídia de origem (isto é, jornal, rádio, cabo) incluindo uma variedade de distribuidores apenas online

Nós examinamos cada site de acordo com mais de 60 características ou capacidades diferentes mensuráveis em seis áreas distintas:

  • O grau de personalização do conteúdo
  • O grau com que os usuários podem participar na produção do conteúdo
  • O grau com que os sites ofereciam conteúdo em formatos de mídia diferentes
  • O grau com que os sites exploravam o potencial para aprofundamento do assunto
  • A extensão com que os próprios padrões editoriais, conteúdo e controle do site representavam a marca proposta
  • A natureza e nível dos fluxos de receita do site

Após concluirmos os estudos dos sites, nós então tabulamos as notas para cada site e os classificamos dentro de cada categoria. Para uma descrição plena da metodologia e os sites estudados veja, por favor, a seção de metodologia deste relatório.

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