The State of The News Media 2008. Mídia online - jornalismo cidadão

do Project for Excellence in Journalism

No final de 2007, a web 2.0 e a mídia cidadã se enraizaram como elementos significativos para o jornalismo do futuro. E tornaram-se verdadeiras concorrentes da mídia tradicional.

Em 2006 os cidadãos deixaram claro que queriam ter voz. Em 2007 começaram a surgir novas maneiras de fazer isso, e essa voz se fortaleceu. Hoje, 2008 parece ser o ano em que a imprensa da corrente dominante tenta atrair os cidadãos para que criem conteúdo em seus próprios canais.

Mas, assim como para grande parte da web, o crescimento do conteúdo baseado em cidadãos encerra indagações sobre o futuro. E, como para grande parte da web, a resposta para uma pergunta fundamental - a viabilidade financeira - continua incerta.

Web 2.0

Em 2006, uma nova palavra-chave, "web 2.0", ou a segunda geração da web, tornou-se corriqueira e uma parte aceita da experiência online.

Colocado de maneira simples, a expressão se refere à mídia online que funciona em parceria, ou interativamente, com o consumidor. Qualquer coisa em que os usuários publiquem vídeo, escrevam blogs, resenhem produtos ou se conectem com amigos em um site de relacionamento social é uma atividade da web 2.0. O site de compartilhamento de vídeos YouTube ou as redes sociais gigantes Facebook e MySpace estão entre as histórias de sucesso da web 2.0. Assim como a Wikipedia, o site da enciclopédia cidadã.

Quantas pessoas estão realmente vivendo no universo da web 2.0? Na primavera de 2006, segundo um estudo do Projeto Pew de Internet & Vida Americana, 37% de todos os americanos que entravam na rede se envolviam com conteúdo gerado por usuários. Cerca de 40% dos usuários adultos da Internet tinham colocado vídeos ou fotos, escrito blogs, publicado comentários a um grupo de notícias online ou site da web, remixado uma canção ou criado alguma outra forma de mídia.

A porcentagem é ainda maior entre os adolescentes. Segundo dados de uma pesquisa feita pelo Projeto Pew de Internet no outono de 2006, 64% dos jovens de 12 a 17 anos disseram ter criado conteúdo para a Internet, contra 57% em 2004.

É notícia?

A tecnologia da web 2.0 não apenas definiu novos padrões para a interação comunitária de pessoas online, as chamadas "netizens", como também está contestando a definição de jornalismo enquanto os cidadãos assumem essa função, muitas vezes como "publishers" sem editores.

Nos últimos anos, sites de notícias de usuários como o Digg viraram a mesa contra a mídia tradicional ao permitir que os visitantes escolham e compartilhem o que eles definem como notícia.

Fãs desses sites demonstram um gosto por notícias muitas vezes bastante diferente do que a mídia tradicional oferece. Um estudo rápido feito pelo Projeto no verão de 2007 descobriu que as principais matérias nos sites de notícias de usuários mais freqüentados - Digg, Reddit e Del.icio.us - eram muito diferentes das publicadas na mídia convencional.

Na semana analisada (24 a 29 de junho de 2007), o lançamento do iPhone da Apple era a matéria mais popular no Digg, enquanto a grande imprensa se concentrava no debate sobre a imigração em Washington. A cobertura da Guerra do Iraque representava 10% dos artigos na imprensa tradicional naquela semana, mas nos três sites de notícias de usuários que o PEJ estudou, constituíam apenas 1% de todas as matérias.

O estudo de uma semana do PEJ também revelou que as fontes das matérias nesses sites tendiam a diferir da imprensa convencional. O blogs de não-jornalistas mostraram-se a fonte mais popular, constituindo 40% das matérias. Cerca de 31% das matérias eram originárias de sites como YouTube e Technorati, que também oferecem conteúdo gerado por cidadãos.

A mídia convencional, em comparação, representava apenas 25% dos artigos desses sites. Os serviço noticiosos, como Associated Press e Reuters, representavam 5% deles.

Na verdade, os cidadãos estão tendo um papel mais direto em transformar os novos sites de mídia ao mesmo tempo em concorrentes e parceiros dos sites de notícias tradicionais. Vamos considerar os tipos de mídia cidadã, um de cada vez.

Sites de vídeo e rede social

Talvez nenhum segmento da mídia online realce mais o crescente papel dos cidadãos do que os sites de vídeo e rede social.

O YouTube, fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim em fevereiro de 2005 e comprado pelo Google em novembro de 2006, é de longe o mais popular site de vídeo, com 28% do total do mercado, segundo os últimos números publicados pela comScore.

Embora o YouTube seja o epicentro do vídeo gerado por cidadãos, há outros sites de vídeo que atraem um público significativo.

Segundo dados da Quantcast, uma empresa de análise da web que acompanha a audiência nos EUA de mais de 20 milhões de sites da web, outros sites populares de compartilhamento de vídeo são DailyMotion.com, Metacafe.com, Break.com, Heavy Networks, Revver.com e Veoh.com. Como o YouTube, eles geralmente apresentam produções profissionais ao lado de vídeos caseiros de todos os estilos e tamanhos.


Sites de compartilhamento de vídeo
PropriedadeAudiência mensal nos EUAResumo do site
YouTube44 milhõesLançado em dezembro de 2005; adquirido pela Google em novembro de 2006 por US$ 1,65 bilhão; envolvido em processo com a Viacom por infração de copyrights.
Metacafe.com9,7 milhõesSite do Vale do Silício lançado em 2003; especializado em conteúdo original em formato curto.
Break.com3,6 milhõesFundado em 1998 em Beverly Hills, Califórnia; conteúdo enfocado em homens de 15 a 35 anos; tem parceria com TiVo, NBC Universal e outros.
Veoh.com2,1 milhõesCompanhia baseada em San Diego, Califórnia, fundada em 2004; distribui conteúdo de vídeo em formato original; exige download de software, ao contrário do YouTube.
Revver481.401Baseado em Los Angeles; considera-se o primeiro site de compartilhamento de vídeos "movido a publicidade", com a receita dividida com usuários que enviam conteúdo; até setembro de 2007 pagou US$ 1 milhão para mais de 25 mil videomakers amadores.

As redes sociais também continuaram crescendo em variedade e tamanho da audiência em 2007. Em junho, segundo dados da comScore, o número mundial de visitantes únicos com mais de 15 anos no MySpace aumentou 72% em relação ao mesmo mês de 2006, alcançando 114 milhões de visitantes únicos. O Facebook teve menos que a metade dessa audiência, com 52 milhões globalmente, mas cresceu 270%.

E hoje também há outros atores. Por exemplo, o Twitter, lançado em 2006, combina características tradicionais de rede social com microblogs, um sistema que permite que os usuários publiquem comentários rápidos de um computador ou por telefone. Essas contribuições podem ser vistas pelo público em geral ou restritas a certos usuários. Segundo Katie King, principal estrategista digital na Marsteller Interactive em Washington, o Twitter, juntamente com o Facebook, está sendo amplamente usado também como plataforma de distribuição de notícias.

Esses sites baseados na cidadania começaram principalmente como lugares para publicar matérias interessantes, grande parte vinda da mídia convencional, com conteúdo acrescentado pelos usuários. Conforme sua popularidade cresceu, eles começaram a rivalizar com os sites jornalísticos em notícias quentes. Os próprios criadores de notícias, do Pentágono aos candidatos presidenciais a grupos humanitários e ativistas, começaram a colocar conteúdo diretamente no YouTube e no MySpace como uma maneira de contrabalançar o que poderia sair na imprensa dominante, ou mesmo superá-la.

Blogs

A mais conhecida forma de atividade na web 2.0, os blogs, apareceram em 2007 e estão crescendo rapidamente. Mas a evidência sugere que a maioria dos americanos não recorre aos blogs para ler notícias.

Dados da Technorati, uma máquina de busca de blogs, descobriu na primavera de 2007 que o número de blogs estava duplicando a cada 320 dias. Segundo a pesquisa, havia 70 milhões de blogs produzidos em todo o mundo naquela época.

Apesar da proliferação de blogs, dados de pesquisa sugerem que a maioria dos americanos ainda não os aceitaram como fonte de notícias importantes. Segundo uma pesquisa Zogby do inverno de 2007, os blogs estavam em último lugar na lista de fontes de notícias "importantes", com 30%, muito depois dos sites da web (81%), da televisão (78%), rádio (73%), jornais (69%) e revistas (38%). Um número maior de americanos, 39%, preferia os amigos e vizinhos aos blogs como fonte importante de informações.

Outra pesquisa revelou que os americanos pareciam estar mais interessados nos blogs como entretenimento do que por sua importância como fonte de notícias. Segundo dados de agosto de 2007 publicados pela firma de pesquisas de marketing Synovate, 49% de todos os americanos liam blogs porque os achavam divertidos, 26% por causa de um determinado hobby ou interesse e 15% por notícias e informação.

Isso parece concordar com os próprios interesses dos blogs cidadãos. O Projeto Pew descobriu em 2006 que a maioria dos blogueiros escrevia sobre questões não relacionadas a notícias. Cerca de 37% disseram que escreviam principalmente sobre sua "vida e experiências", com questões de vida pública (11%) citado como segundo tema mais popular. Apenas 5% disseram que se concentravam principalmente em notícias e atualidades.

Se os cidadãos estão gravitando para os blogs mais por prazer pessoal, a mídia tradicional está trabalhando para conectá-los mais às notícias: 95 dos 100 principais jornais continham blogs de repórteres em março de 2007, contra 80% em 2006, segundo pesquisa realizada pelo Bivings Group.
Esse aumento é interessante diante das polêmicas questões editoriais que cercaram os blogs em jornais tradicionais alguns anos atrás. Mas os blogs parecem ter-se tornado uma maneira interessante de atrair novas audiências para a web.

Em 2006, último ano sobre o qual há dados disponíveis, aumentou muito o tráfego para as páginas de blogs nos principais sites de jornais. Segundo dados da Nielsen//Net Ratings, o número de visitantes únicos para páginas de blogs nos dez sites de jornais mais populares cresceu 210% de dezembro de 2005 a dezembro de 2006. De maneira coletiva, esses visitantes formaram 13% do tráfego total desses sites.

Esses leitores fazem parte de uma crescente audiência geral de blogs.
Dados de julho de 2007 da Synovate sugerem que quase a metade de todos os americanos dizem já ter lido um blog, mas os números estão crescendo rapidamente. Isso é notavelmente maior do que os 39% que o Projeto Pew relatou no inverno de 2006. E esse número já era 27% maior do que o indicado pelo projeto um ano antes.

E esse universo parece ser muito maior entre os jovens. Segundo dados da Synovate, 78% dos adultos de 18 a 24 anos já leram blogs. Esses adultos jovens também tinham maior probabilidade de notar os anúncios nos blogs: 61%, comparados com 43% em geral.

Somente um pequeno núcleo de todos os adultos, porém, são leitores regulares de blogs, segundo a pesquisa da Synovate. Apenas 15% lêem os blogs diariamente e só 5% mais de uma vez por dia. Em comparação, 28% eram visitantes mensais. E o maior grupo de leitores de blogs (39%) os visitava menos de uma vez por mês, segundo a pesquisa.

O futuro financeiro dos blogs

Enquanto os leitores fiéis de blogs geralmente procuram as notícias do dia em outros lugares, isso poderá mudar no futuro.

A maioria dos americanos espera que os blogs tenham um papel cada vez mais importante como veículos de notícias. Segundo a pesquisa Zogby, 55% acreditam que o blog será um aspecto importante do jornalismo no futuro. Um número avassalador (74%) achava que repórteres cidadãos amadores, em oposição aos canais da mídia tradicional, teriam um papel chave.

Se eles estiverem certos, os blogueiros independentes terão de descobrir uma maneira de financiar seu trabalho.

Quase no início de 2008 havia sinais imprecisos sobre um modelo financeiro emergente. A publicidade - e portanto a receita de anúncios - está se tornando mais comum, mas se esta chega aos blogueiros colaboradores é menos certo. Vamos considerar dois blogs dos mais populares em 2007, que deram sinais de gerar algum lucro.

O popular blog de comentário político Huffington Post tinha anúncios da CNN, do The New York Times, Xerox, Audiência e Discovery em 2007. Seu co-fundador, Ken Lerner, espera que a audiência do blog duplique no ano eleitoral de 2008, sugerindo um aumento da receita publicitária.

Mas com ou sem lucro Lerner não pretende pagar aos blogueiros voluntários, que chegavam a cerca de 1.800 no final de 2007, muitos deles nomes famosos que apresentavam ensaios sem esperar pagamento. "Esse não é nosso modelo financeiro", disse Lerner à USA Today em setembro de 2007. "Nós lhes damos visibilidade, promoção e distribuição com uma ótima companhia."

Em contraste, os escritores do Gawker, que se concentra em notícias da indústria de mídia, recebem pagamento por suas publicações no blog. O Gawker tem mais de cem empregados e colaboradores (muitos deles freelance) e poderia gerar US$ 10 milhões a 12 milhões em lucros anuais, segundo um artigo na revista New York.

Os gastos com anúncios em blogs deverão aumentar. Segundo dados da firma de pesquisas PQ Media, e do boletim da indústria de marketing MarketingVox, os marqueteiros deverão aumentar em 730% seus gastos em blogs, de US$ 36,2 milhões em 2006 para US$ 300,4 milhões em 2010.

Wikipedia: um novo tipo de fonte de notícias?

Talvez nenhum site reflita mais a natureza participativa da web 2.0 do que a Wikipedia, a enciclopédia online grátis escrita por cidadãos que depende de mil administradores voluntários para criar, editar e manter seu conteúdo.

A Wikipedia foi lançada em janeiro de 2001 por Jimmy Wales e Larry Sanger. Com mais de 2 milhões de artigos em inglês em janeiro de 2008, ela se tornou um importante recurso para muitas pessoas, incluindo jornalistas, apesar de questões polêmicas sobre sua precisão.

Em 2007 também havia sinais de que a Wikipedia está evoluindo para um novo papel: fonte de notícias.

Vários críticos de mídia notaram a popularidade da Wikipedia durante grandes eventos noticiosos nos últimos anos, notadamente os atentados terroristas de 2005 em Londres e o tsunâmi no Sudeste Asiático em 2004. Mas o site talvez tenha chamado mais atenção em 2007 depois do massacre em 16 de abril na Universidade Virginia Tech em Blacksburg, Virgínia.

A Wikipedia atraiu mais de 750 mil visitas para seu artigo sobre a tragédia nos primeiros dois dias, uma média de quatro visitas por segundo, segundo o New York Times. O Roanoke Times, jornal da cidade da universidade, descreveu a Wikipedia como "a câmara de compensação para informações detalhadas sobre o evento".

Quem usa a Wikipedia? Uma pesquisa do Projeto Pew de Internet & Vida Americana descobriu que 36% dos americanos que entram online já consultaram o site, e 8% o faziam em um dia típico no inverno de 2007. A mesma pesquisa descobriu que a maior utilização da Wikipedia era de pessoas com pelo menos diploma colegial.

O site também parece ser mais popular entre jovens adultos americanos (18 a 29 anos), assim como adultos que têm conexão em banda larga em casa. E os jovens americanos são os que têm maior probabilidade de consumir notícias online ou de já ter lido um blog, segundo dados do Pew Internet.

Os usuários da Wikipedia - visão geral:

Você já usou a internet para procurar informações na Wikipedia?% de usuários adultos de internet que respondem "sim"
Homens39%
Mulheres34%
Brancos37%
Negros27%
Hispânicos que falam inglês36%
18-29 anos44%
30-49 anos38%
50-64 anos31%
65 anos ou +26%
Diploma segundo grau22%
Superior incompleto36%
Diploma Superior ou +50%
< US$ 30.000 de receita familiar32%
$30.000-50.00035%
$50.000-75.00039%
>$75.00042%
Conexão discada em casa26%
Banda larga em casa42%

Fonte: Pesquisa do Projeto Pew de Internet & Vida Americana, 15/02 a 7/03/2007, com 1.492 usuários de internet. Margem de erro +/- 3%.

Sites de jornalismo cidadão

Nos últimos anos, os cidadãos montaram cada vez mais sites de notícias para relatar questões que afetam suas cidades, comunidades ou bairros.

Sites dirigidos por cidadãos como Newsvine agregam notícias de todo o país. O Newsvine foi adquirido pela MSNBC em outubro de 2007 e tem uma audiência mensal de 1 milhão de visitantes únicos, segundo reportagem do New York Times.

Jan Schaffer, diretor-executivo do Instituto de Jornalismo Interativo da Universidade de Maryland, estimou os sites de jornalismo cidadão nos EUA em "mais de mil, rapidamente chegando a 1.500" no final de 2007. O conteúdo desses sites varia, desde últimas notícias a fechamento de escolas e sessões da Câmara de Vereadores. Também há anúncios de casamentos e nascimentos e receitas culinárias.

Qual é o modelo empresarial desses sites?

Enquanto alguns sites de jornalismo cidadão estão vendendo anúncios, há poucos dados sobre quanta receita eles geram. O que sabemos é que a maioria não está ganhando o suficiente para financiar seus sites. Segundo uma pesquisa de 2006 do programa de Jornalismo Interativo da Universidade de Maryland, apenas 21% dos diretores de sites de jornalismo cidadão relataram cobrir seus custos operacionais.

Na falta de receita, a maioria parece funcionar com o sangue, suor e lágrimas de seus proprietários. Segundo a pesquisa de Maryland, 51% disseram que não era necessário gerar receita para manter os sites em funcionamento - 14% dos jornalistas cidadãos relataram que custava menos de US$ 1 mil para lançar seus sites e outros 29% citaram um valor inferior a US$ 100.

Mas é preciso mais que dólares de investimento - há necessidade de tempo, que afinal se traduz em dinheiro. O colapso do Backfence, uma rede comercial de sites de cidadãos que já tinha dois anos, levantou perguntas sobre a economia do jornalismo cidadão. O site, apoiado por capital de risco e lançado em maio de 2005, encerrou suas operações no meio do verão de 2007.

"Realisticamente, vai levar cerca de dez anos para que sejam criados os modelos empresariais e para que haja anunciantes dispostos a dar dinheiro para novatos locais", disse Vin Crosbie, sócio-diretor da firma de consultoria de mídia Digital Deliverance, ao jornal Washington Post. "O problema da Backfence é que foi prematura demais."

Em meio à incerteza que cerca o modelo empresarial dos sites de jornalismo cidadão, as empresas sem fins lucrativos tornaram-se uma presença mais visível no jornalismo online.

Isso é especialmente verdadeiro em nível local, onde as sem fins lucrativos contribuíram com dinheiro para encorajar e suportar os noticiários de cidadãos.

O maior reforço em 2007 veio da Fundação John S. and James L. Knight, que em meados de junho tinha dado quase US$ 4 milhões para vários sites dedicados ao jornalismo cidadão.

Outras empresas sem fins lucrativos tornaram-se mais diretamente envolvidas no jornalismo online.

No início de 2006, Dan Gillmor, um ex-colunista do San Jose Mercury e autor de "We the Media", lançou o Centro para Mídia Cidadã em cooperação com a Escola de Direito da Universidade Harvard e a Universidade da Califórnia em Berkeley. O centro foi fundado com três objetivos principais, segundo Gillmor:

- Realizar pesquisas e análises sobre jornalismo cidadão

- Fornecer ferramentas e práticas para jornalistas

- Oferecer educação e treinamento para cidadãos e jornalistas profissionais que queiram trabalhar com jornalistas cidadãos.

Entre outras coisas, o centro colaborou com o Projeto Lei da Mídia dos Cidadãos, destinado a ajudar jornalistas cidadãos a compreender a lei do ciberespaço. Em janeiro de 2008 o site do centro também abriga o blog de Gillmor sobre mídia cidadã.

Outro grupo, a Fundação Sunlight, foi fundado em 2006 para ajudar a educar cidadãos sobre transparência no governo, financiando projetos na web que combinam jornalismo cidadão e ativismo. A campanha do site "Exposing Earmarks" [Expondo alocações] levou a uma legislação que dá acesso ao público a um banco de dados online de como se gasta o dinheiro federal. A Fundação Sunlight também ajudou a criar a Congresspedia, que chama a si mesma de "enciclopédia cidadã sobre o Congresso, que você pode editar". Lançado em abril de 2006, o site inclui artigos e pesquisa sobre membros do Congresso e do Senado. O conteúdo é escrito por jornalistas cidadãos, mas, ao contrário da Wikipedia, um editor pago supervisiona o site. Os colaboradores também precisam se registrar antes de enviar artigos.

Embora a fundação se declare bipartidária, foram levantadas questões sobre as inclinações liberais de seus diretores. O blogueiro Mark Glase do MediaShift, por exemplo, apontou em abril de 2007 que seu presidente, Michael Klein, que deu à fundação US$ 3,5 milhões, já havia doado muito mais para causas democráticas do que republicanas.

Uma leitura de "Cidadão J"

Para ter uma idéia melhor dos sites de jornalismo cidadão, uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan, da Universidade de Missouri e da Universidade de Ohio embarcaram em um estudo de duas partes intitulado "Rastreando e analisando modelos de jornalismo comunitário", financiado pelos Fundos de Caridade Pew e pela Fundação Knight. A primeira fase, conduzida no final de 2007, foi uma auditoria de várias características de 64 sites de jornalismo cidadão em 15 áreas metropolitanas. A primeira fase examinou os sites em itens como publicação de material externo, uso de links e extensão da publicidade. Os sites estudados variavam em alcance, desde uma área metropolitana até uma cidade menor ou um único bairro.

O fato de que essas 15 áreas metropolitanas hoje contêm pelo menos o mesmo número de sites de notícias de cidadãos e blogs locais é uma descoberta importante. O fenômeno está se tornando mais robusto.

A outra descoberta foi que, apesar de o jornalismo cidadão implicar abertura e interatividade, a maioria dos sites analisados tendia a demonstrar fortes instintos de "guardas do portão", que controlam o conteúdo e às vezes são mais difíceis de se interagir do que sugerem os ideais do jornalismo cidadão. Em vez de profissionais, esses vigilantes eram os blogueiros ou cidadãos que dirigiam os sites.

O estudo concluiu que a maioria dos sites não permitia que os usuários publicassem notícias ou reportagens, informação sobre atividades comunitárias, cartas ao editor, fotografias ou vídeos.

A única forma de abertura era que a maioria, na verdade quase todos, permitia que os usuários publicassem comentários sobre o material do site, mas a equipe se reservava o direito de reeditar ou filtrar os comentários para manter seus padrões de civilidade.

Entre outras tendências que surgiram: a maioria oferecia maneiras limitadas de interagir com a equipe, tinha baixa tecnologia comparada com os sites da mídia tradicional e tinha publicidade esporádica. Muitos desses sites também eram muito jovens, criados nos últimos seis meses, o que pode explicar certo atraso em sofisticação tecnológica. Uma área em que eles pareciam comparáveis aos canais da mídia estabelecida era em links diretos para informações adicionais.

Os pesquisadores diferenciaram os sites de cidadãos que publicam reportagens originais dos que operam como blogs de jornalismo. Eles concluíram em geral que os sites de notícias eram mais abertos a outros cidadãos do que os blogs, mas mesmo assim o conteúdo de usuários não era a norma. Apenas 27% permitiam que os usuários colocassem seu material no site.

Nos sites de notícias de cidadãos, 40% permitiam que os usuários publicassem textos e a metade destes (20%) que publicassem fotografias; 28% permitiam a publicação de informações sobre eventos comunitários; 16% permitiam a publicação de arquivos de áudio e 12% permitiam a publicação de vídeos.

Os blogs eram ainda menos abertos. Apenas 10% permitiam publicações de texto dos visitantes e 5% permitiam a publicação de fotos ou vídeos. Nenhum dos blogs estudados permitia a publicação de áudio pelos usuários.
E a possibilidade de comentar o conteúdo ou entrar em contato com a equipe? Mais uma vez o jornalismo cidadão não pareceu muito à frente (e às vezes atrás) do jornalismo convencional.

O relatório PEJ de 2007 incluiu um estudo de conteúdo de 38 sites de notícias e descobriu que a natureza participativa da web era mais teórica que palpável. Desde então muitos canais de notícias da corrente dominante tomaram medidas adicionais para atrair os usuários e seu conteúdo original para o processo jornalístico.

Todos os 64 sites permitiam que os usuários publicassem comentários, reservando-se o direito de filtrá-los ou editá-los quando necessário, mas somente 20% dos sites de notícias e apenas 8% dos blogs ofereciam fóruns de leitores. Outra prática inicial para dar voz aos usuários com uma pesquisa online não se mostrou mais popular do que os fóruns (20% dos sites de notícias e 5% dos blogs).

Quando se tratava de contatar a equipe diretamente, quase todos (96%) os sites de notícias permitiam o envio de mensagens eletrônicas para os administradores do site, comparados com 75% dos blogs. A vasta maioria dos sites não oferecia um número de telefone ou endereço dos administradores.

Os sites baseados em cidadãos também parecem atrasados quanto aos métodos de distribuição que oferecem. Assim como a maioria dos sites da corrente dominante no estudo PEJ 2007, os feeds RSS eram extremamente comuns.

Somente quatro sites de blogs e um de notícias não tinham RSS. No entanto, o uso de outros sistemas de distribuição era raro: 8% dos blogs e 4% dos sites de notícias ofereciam podcasts, e apenas 13% dos blogs e 8% dos sites de notícias permitiam que os visitantes enviassem por e-mail matérias para outras pessoas. E a entrega por celular, a última onda tecnológica, só existia em um blog e um site de notícias.

Uma grande mudança nos sites de notícias da corrente dominante em 2007 foi derrubar o "muro do jardim", o que permitiu conectar a organizações ou matérias externas tanto em suas home pages como, ainda mais, em matérias internas (link para o lugar adequado na reportagem). Com a idéia de que um novo papel do jornalismo é conduzir as pessoas para a informação que elas desejam, e que as pessoas irão obtê-las em outros lugares de qualquer maneira, muitos sites de notícias da corrente dominante estão conscientemente preferindo ajudar a levar as pessoas para outros lugares.

Segundo essa análise, a maioria dos sites de cidadãos também está trabalhando em direção a esse modelo.

Todas as home pages tinham um ou mais links externos, mas o tipo de link variava muito: 40% dos blogs e 24% dos sites de notícias de cidadãos tinham links para a mídia jornalística tradicional. Trinta e quatro por cento dos sites tinham links para outros sites noticiosos, mas uma porcentagem maior (58%) conectava somente com sites de blogs cidadãos. Alguns sites de cidadãos conectavam com sites de notícias comerciais (14%) e blogs comerciais (19%) e não eram conectados a uma organização noticiosa tradicional. Esses parecem ser sites de notícias e blogs lucrativos e independentes.

Porcentagem de sites de cidadãos com pelo menos um link para vários tipos de sites:

BlogsSites noticiososTotal de sites
Link para organizações de notícias tradicionais (jornais, TV, etc.)40%24%34%
Link para sites de notícias de cidadãos28%48%34%
Link para sites de blogs de cidadãos60%56%58%
Links para sites noticiosos comerciais20%4%14%
Link para sites de blogs comerciais27%4%19%
Número de sites392564

Fonte: Project for Excellence in Journalism

Examinando os fluxos de receita, a imagem era mais variada. A publicidade era muito mais comum nos sites de notícias de cidadãos do que nos blogs. A maioria dos sites de blogs (58%) não tinha qualquer publicidade, enquanto 64% dos sites de notícias tinham três ou mais anúncios na home page. Os anúncios classificados apareciam em 44% dos sites de notícias, a maioria deles oferecida sem custo. (Somente 3% dos blogs tinham anúncios classificados)

A segunda fase do estudo se expandirá sobre a primeira, triplicando o número de mercados examinados e acrescentando uma análise do conteúdo encontrado nos sites de jornalismo cidadão. Além disso, alguns sites da primeira fase serão examinados para ver se mudaram.

Esse estudo não pode responder por que os sites eram geralmente mais restritivos do que os defensores do jornalismo cidadão poderiam gostar, e várias possibilidades se apresentam.

A natureza dos sites pode refletir seus desenvolvimento inicial. Ter um interesse pelo jornalismo cidadão não garante o conhecimento tecnológico nem as verbas para investir no software necessário. Os sites jovens também tendem a ter menos voluntários do que os sites já estabelecidos. Outra explicação possível é simplesmente a falta de tempo para investir em tecnologia mais complexa.

Ou pode ser que esses jornalistas cidadãos compartilhem em parte a preocupação manifestada por jornalistas mais tradicionais em servir de anfitriões para informação sobre a qual eles não têm controle editorial.

Tradução: Luiz Roberto Gonçalves