As lições do relatório The State of The News Media 2008 para os jornalistas online

Robert Niles

A audiência de notícias online é maciça e está crescendo. Então por que a indústria jornalística enfrenta tantos problemas?

O Projeto para Excelência em Jornalismo divulgou hoje seu relatório The State of News Media 2008. Ele contém muita coisa interessante para os jornalistas e os publishers preocupados com o futuro imediato da indústria de notícias. Mas quais, especificamente, são as lições para os jornalistas e publishers na internet?

Dois gráficos no resumo do relatório do PEJ me marcaram: "De muitas maneiras, a audiência de notícias - e do que se produz nas redações tradicionais - parece estar crescendo. Os jornalistas não estão deixando de se adaptar. Em 2008, há mais indícios do que nunca de que as pessoas adotam as novas tecnologias e querem inovar.

"O problema, como está cada vez mais claro, é o modelo econômico quebrado - a desconexão entre publicidade e notícias. Os anunciantes não estão migrando para os sites jornalísticos com a audiência, e os sites de notícias já estão ficando financeiramente atrás de outros tipos de destinos na web."

O relatório do PEJ não se baseia em uma única pesquisa ou estudo; ele fornece um útil resumo de outras pesquisas, estudos e comentários sobre a indústria jornalística no último ano. Ele inclui uma pesquisa do Centro de Pesquisas Pew/PEJ com 500 jornalistas, realizada no último outono, além de resumos de pesquisas realizadas sobre jornais, televisão em rede, a cabo e local, revistas, rádio, mídia étnica... e também internet.

Enquanto o PEJ expandiu o enfoque do relatório para incluir muitos dos chamados sites de notícias "hiperlocais", o grosso da informação na parte online do relatório vem de estudos dos sites de grandes empresas jornalísticas, assim como grandes portais online e máquinas de busca como Yahoo, AOL e Google. Infelizmente, deixa de examinar uma ampla gama de fontes de informação online, de fóruns de discussão a comunidades locais em blogs, onde muitos leitores estão encontrando informações relevantes e oportunas.

Dito isso, aqui está a boa notícia do relatório para todos os publishers online: "Oitenta por cento dos americanos de 17 anos ou mais dizem hoje que a internet é uma fonte crítica de informação - contra 66% em 2006. Segundo o mesmo estudo, mais americanos identificaram a internet como uma fonte de informação mais importante que a televisão (68%), o rádio (63%) e os jornais (63%).

E com os leitores vêm as receitas, embora o ritmo de aumento anual nas receitas de publicidade esteja começando a decair: "Nos primeiros nove meses de 2007, a receita de anúncios online crresceu 26%, para US$ 15,2 bilhões, segundo o Interactive Advertising Bureau. Mas esse número é menor que o índice de crescimento de 36% no mesmo período um ano antes".

O relatório PEJ atribui parte da culpa por essa desaceleração ao fracasso da indústria online em desenvolver métodos padronizados para aferir quem está vendo quais sites, e por quanto tempo: "Enquanto as firmas de medição online experimentam qual a maneira mais eficaz de contar os leitores online, os anunciantes só podem adivinhar quantos consumidores estão vendo seus anúncios". (Da mesma página.) Escrevemos no OJR sobre o problema da medição no último verão, e o PEJ citou esse comentário em seu relatório.

É claro que uma métrica precisa não vai garantir ganhos em receita se a economia global estagnar, como indicam sinais perturbadores. Mas se a economia cair em recessão, ou pior, será essencial para os sites ter uma medição precisa e honesta para manter os anunciantes que continuarem no mercado.

Felizmente, as grandes organizações noticiosas estão finalmente começando a "entender" e a dedicar atenção e recursos significativos à publicação online. Em uma parte do relatório, com o subtítulo "A Primazia da Web", o PEJ escreveu: "Até alguns anos atrás, a web era freqüentemente caracterizada como uma ferramenta para complementar ou aperfeiçoar o noticiário das plataformas tradicionais, especialmente os jornais. Em 2006 e 2007, porém, executivos de mídia e editores começaram a falar na web como uma porta de entrada, mais que de saída, de suas propriedades mais antigas e tradicionais".

O PEJ citou um estudo do Bivings Group dos sites dos cem jornais de maior circulação nos EUA, que concluiu:

. Quase todos (97%) os sites ofereciam RSS (Really Simple Syndication), uma tecnologia que permite aos usuários receber atualizações regulares, contra 76% em 2006.

. 88% dão aos leitores a oportunidade de publicar comentários em blogs hospedados nos sites dos jornais, contra 67% em 2006.

. Mais da metade (51%) incluía uma lista de artigos "mais populares" determinada pelo uso dos leitores, número que aumentou de 33% no ano anterior.

. 44% ofereciam aos leitores a capacidade de marcar artigos entre seus favoritos, comparados com apenas 7% em 2006.

. 33% permitiam que os leitores fizessem comentários sobre reportagens, contra 19% em 2006.

Talvez de modo irônico, o relatório PEJ notou que os sites hiperlocais estudados não eram mais abertos ao conteúdo oferecido pelos leitores do que seus concorrentes da chamada mídia da corrente dominante:

"Apesar de o jornalismo cidadão implicar abertura e interatividade, a maioria dos sites analisados tendia a demonstrar fortes instintos de 'guardas do portão', que controlam o conteúdo e às vezes são mais difíceis de se interagir do que sugerem os ideais do jornalismo cidadão. Em vez de profissionais, esses vigilantes eram os blogueiros ou cidadãos que dirigiam os sites.

"O estudo concluiu que a maioria dos sites não permitia que os usuários publicassem notícias ou reportagens, informação sobre atividades comunitárias, cartas ao editor, fotografias ou vídeos.

"A única forma de abertura era que a maioria, na verdade quase todos, permitia que os usuários publicassem comentários sobre o material do site, mas a equipe se reservava o direito de reeditar ou filtrar os comentários para manter seus padrões de civilidade."

Por que isso acontece? Suspeito que seja porque os pequenos publishers aprenderam a mesma coisa que os publishers do mercado de massa sabem há muito tempo: administrar o conteúdo de leitores é trabalho duro.

Que este seja o ano em que os publishers reconheçam como fantasia a idéia de que os leitores - de graça e sem orientação - vão produzir reportagens precisas, duradouras, envolventes, com múltiplas fontes, em uma base consistente. Eles vão contribuir com informação para a reportagem de alguém, seja um comentário em uma matéria, uma reação a uma discussão ou uma contribuição para um banco de dados jornalístico. Mas obter e administrar essa quantidade de informação exige enorme dedicação e compromisso de um publisher da web.

Muitos indivíduos e pequenas equipes que iniciam blogs ou publicações noticiosas rapidamente descobrem que não têm tempo, tecnologia ou perícia para manipular grande parte do conteúdo gerado por usuários, além de renovar o blog ou o site. Por isso seria bom ter lido mais no relatório do PEJ sobre comunidades estabelecidas de conteúdo online, que encontraram maneiras de obter e administrar conteúdo gerado por usuários e pudessem ajudar os sites da mídia dominante e os novatos hiperlocais.

Nesse sentido, eu gostaria muito de saber dos leitores do OJR o que o relatório PEJ os inspirou a fazer ou mudar no próximo ano. Aqui estão três coisas que eu gostaria de ver a indústria jornalística online fazer em 2008, em reação ao relatório do PEJ:

1. Diversificar. Se os sites jornalísticos estão ficando atrás de outros destinos online para atrair dinheiro de publicidade, vamos expandir a definição de que tipo de site as redações de jornais deveriam publicar. Abordar comunidades nacionais e globais, redes sociais locais, ferramentas "mash-up", que combinam dados diversificados. Deixem de enfocar narrativas voltadas para impressão e teletransmissão e em vez disso decidam que qualquer coisa que ofereça informação não-fictícia precisa e duradoura às pessoas que precisam dessa informação é "jornalismo" e está dentro de nossa capacidade de produzir melhor que qualquer iniciativa novata de não-jornalistas.

2. Entrar em acordo sobre a medição. Uma solução voltada para a indústria de jornais não será suficiente. A verdadeira solução para a confusão da indústria de publicidade sobre o público da web deve incluir um amplo leque de sites, do New York Times ao The Brady Bunch Shrine. Milhões de dólares estão fluindo dos maiores publishers para os sites "long tailandeses" [de nicho], e uma solução de métrica deve permitir que os potenciais anunciantes comparem com precisão os níveis de audiência em todos eles. O Google será a salvação?

3. Intensificar os esforços para obter e administrar conteúdo cidadão. Detesto assistir a eventos esportivos na TV e ver os repórteres dizerem alguma coisa óbvia, depois enfiar o microfone na cara do atleta para ouvir a resposta. Hmm... havia uma pergunta ali? Muitas tentativas da indústria de obter conteúdo de nossos leitores parecem igualmente confusas e infrutíferas. As grandes comunidades online vêm recebendo conteúdo do leitor há mais de uma década.

Um conteúdo cidadão de melhor qualidade pode atrair mais leitores. Uma métrica de melhor qualidade pode atrair mais anunciantes. Publicações mais bem dirigidas podem fazer as duas coisas. Como nota o relatório do PEJ, a audiência do jornalismo online é maciça e está crescendo. Vamos aproveitar isso.

Tradução: Luiz Roberto Gonçalves