Objeto pleonástico causa efeito estilístico

"Por que motivo não me alegra a mim?"

A alguns pode parecer redundante, mas a construção escolhida pelo colunista está correta e tem eco nos bons autores da língua portuguesa. O verbo "alegrar", um transitivo direto, tem como objeto, na frase em questão, o pronome de primeira pessoa, que aparece nas formas átona ("me") e tônica ("a mim").

É claro que a frase poderia ser escrita com apenas uma das formas: "Por que alguma coisa não me alegra?" ou "Por que alguma coisa não alegra a mim?". O uso das duas formas simultaneamente constitui um pleonasmo sintático, que é uma figura de linguagem usada para criar efeito de realce. Sintaticamente, temos no período o chamado objeto direto pleonástico.

É essa construção que aparece no verso do poema "Legado", de Carlos Drummond de Andrade: "E mereço esperar mais do que os outros, eu?/ Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti".

Na linguagem cotidiana, essa estrutura também aparece, por exemplo, em frases começadas com a expressão "a mim me parece que".