Estrutura correlativa requer ordem apropriada

"Segundo o relato de participantes da reunião de ontem, o caso do suposto dossiê não foi discutido no encontro, mas a montagem da agenda da candidata petista."

A leitura do fragmento em epígrafe provoca certa estranheza, mas, à primeira vista, parece difícil entender por quê. Vamos, portanto, "desmontar" a construção.

A ideia do redator é mostrar uma quebra de expectativa: esperava-se que o caso do suposto dossiê fosse um dos assuntos discutidos no encontro, mas isso não ocorreu. Discutiu-se apenas a agenda da candidata, segundo o relato de participantes.

Muito bem. Para que o texto expresse não apenas os fatos como também a hierarquia entre eles, o redator - acertadamente - lançou mão do par correlativo "não...mas" (ou "não isso, mas aquilo"). O problema está na ordem dos termos.

Diferentemente do que alguns podem pensar, a ordem dos termos não é totalmente livre em português. No caso das correlações (como a de "não isso, mas aquilo"), a ordem é fundamental para exprimir a ideia pretendida.

Ao iniciar o período com o trecho "Segundo o relato de participantes da reunião de ontem, o caso do suposto dossiê não foi discutido no encontro" (veja acima), o redator não cria a expectativa da segunda parte da estrutura, o que é a característica básica das correlações. O leitor tem a impressão de que poderia ser posto aí um ponto final.

Observe o que ocorreria se a ordem fosse a seguinte: "Segundo o relato de participantes da reunião de ontem, foi discutido no encontro não o caso do suposto dossiê". É claro que não pensaríamos em pôr um ponto final no texto - a posição do advérbio de negação, por assim dizer, chama a continuação da frase. Alguma coisa foi discutida no encontro - e não é aquilo que poderíamos imaginar. Para que essa ideia fique clara, é preciso usar os termos na ordem apropriada, mantendo o paralelismo gramatical (depois de cada elemento, vem um termo de idêntica classe gramatical: "não o caso, mas a montagem").

Sugere-se ainda o uso da voz passiva pronominal (discutiu-se) no lugar da passiva analítica (foi discutido) para evitar um problema de concordância.

Veja, abaixo, a sugestão:

Segundo o relato de participantes da reunião de ontem, discutiu-se no encontro não o caso do suposto dossiê, mas a montagem da agenda da candidata petista.