Pousar ou posar?

"Tem ativista que vai viver uns 20 anos por conta daquela viagem 'humanitária'. Vai acabar pousando em campanha publicitária por aí."

Pode até ser que tenha sido uma escolha de quem escreveu o texto, não um equívoco, mas esse é um caso que, pelo menos, suscita uma questão gramatical relevante, a saber, a velha confusão entre os parônimos "pousar" e "posar".

A ideia de "pousar" remete a algo que está suspenso e será posto em uma superfície: "pousar a taça na mesa", "pousar um fardo no chão". Um avião pousa (ou aterrissa) na pista, uma pessoa pode pousar num hotel (desse sentido, de pernoite ou breve hospedagem, surgiu o termo "pousada" como um tipo de albergue ou pensão).

Também se pode pousar a mão na face de alguém ("Pousa a mão na minha testa:/ Captarás numa palpitação inefável/ o sentido da única palavra essencial:/ amor", diria o poeta Manuel Bandeira ). Por metáfora, dizemos "pousar os olhos em alguém".

Da mesma família de "pousar" é "repousar". Já "posar", de origem francesa, é o ato de ficar imóvel numa determinada posição, ou fazer "pose", coisa que fazem os modelos dos pintores e, mais frequentemente, os dos fotógrafos, não raro para fotos de campanhas publicitárias . Daí ficarmos com a impressão de que a ideia do autor era dizer que certos ativistas de causas humanitárias (que estão em busca de autopromoção) vão acabar posando em campanhas publicitárias. Se assim for, teremos o seguinte:

Tem ativista que vai viver uns 20 anos por conta daquela viagem "humanitária". Vai acabar posando em campanha publicitária por aí.