Nova ortografia: boca de lobo e boca-de-lobo

A reforma ortográfica anulou algumas distinções com as quais já estávamos habituados - e sabemos que pares opositivos são úteis, fáceis de lembrar. Enfim, muita gente ainda não se acostumou com o desaparecimento de certos hifens.

Esse foi o caso, por exemplo, da locução "dia a dia" (equivalente a "dia após dia"), que se distinguia do substantivo composto "dia-a-dia" (grafia antiga), sinônimo de "cotidiano", exatamente pelo par de hifens. Com a reforma, a grafia se universalizou: "dia a dia" em todos os casos. Assim: Dia a dia, ele se tornava mais áspero e Eram tarefas simples do dia a dia.

Os hifens de "pé-de-moleque" (grafia antiga) eram confortáveis porque garantiam o sentido figurado da expressão. No Sul e no Sudeste do país, o agora "pé de moleque" (sem os hifens) é um docinho de consistência dura, feito à base de açúcar e amendoim; no Nordeste, é um tipo de bolo preparado com a massa de mandioca puba, coco e açúcar. Em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na região Centro-Oeste do país, a expressão denomina o calçamento feito com pedras de formato irregular. Em todos esses casos, a palavra se escrevia com hifens, como que a reforçar a metáfora a ela inerente, distinguindo-se das extremidades dos membros inferiores de meninos. Muito bem. Isso é passado.

Há situações, entretanto, em que a distinção permanece. É o caso de "boca-de-lobo" e "boca de lobo". A forma hifenizada é nome de uma espécie botânica (é o outro nome da trepadeira também conhecida como "boca-de-leão"); a forma sem hifens é um sinônimo de bueiro. É preciso lembrar que os nomes de espécies botânicas e de espécies animais mantiveram a grafia hifenizada. Assim: boca-de-leão (espécie botânica), boca-de-lobo (espécie botânica), mas boca de lobo (bueiro), boca de urna, boca de sino, boca de siri, boca de fumo, boca do lixo etc.

Com o tempo vamos todos nos acostumar com a mudança.