Jornalismo online nos EUA - 2006 - Propriedade

Propriedade

Parece que muito do que foi dito sobre quem era dono do jornalismo na Internet em 2004 também valeu para 2005.

Os sites mais populares de notícias eram os mesmos quatro que estão há muito tempo no topo da lista. E os sites de notícias que geram maior tráfego continuam sendo propriedade das mais ricas corporações de mídia dos EUA.

Alguns desenvolvimentos foram dignos de nota em 2005. Depois de especulações de que a Time Warner pretendia vender a AOL, o que aconteceu foi uma parceria limitada com a Google. Assim provavelmente se evitou uma nova consolidação.

E um site que mostrou um dos maiores crescimentos de tráfego em 2005, a BBC, não era uma corporação americana, nem com fins lucrativos.

 

Líderes de notícias online

Duas organizações são as fornecedoras centrais de números de tráfego online: Nielsen/Net Ratings e Comscore MediaMetrix. Ambas mostram aumentos no tráfego em 2005 entre os principais sites, mas seus números para sites específicos variam um pouco.

Os 20 principais sites de notícias, segundo a Nielsen//Net Ratings, tiveram em média 10,7 milhões de visitantes por mês de janeiro a dezembro de 2005, um aumento de 9% em relação a 2004.

Visitantes únicos nos 20 principais sites de notícias e informação

Visitantes únicos por mês

Fonte: Nielsen//Net Ratings
* Beginning with Sept. 2004 data, Nielsen//NetRatings--to increase accuracy--has improved its NetView home panel sample weighting methodology by updating projections for key segments of the Internet universe. Caution should be used with trending data.

 

No topo, quatro sites continuam gerando maior tráfego, apesar de ter havido certa modificação na ordem de liderança.

Em 2005, o Yahoo News passou para o topo, com 24,1 milhões de visitantes únicos por mês em média. Foi um aumento de 12% em relação ao ano anterior, o maior entre os principais concorrentes.

Em segundo lugar, a audiência da MSNBC.com ficou em 23,4 milhões em 2005, com aumento de 11%. A CNN, que liderou em 2004, sofreu uma queda de 5% em 2005, com 22 milhões de visitantes únicos. E a AOL News continuou em quarto, com 16,2 milhões, um aumento de 11% em 2005.

Depois dos quatro grandes, há uma queda acentuada no volume de tráfego -- a média foi de 8 milhões de visitantes únicos por mês, segundo a Nielsen/Net Ratings.

Principais sites de notícias(Nielsen)

Janeiro a dezembro de 2005

Fonte: Nielsen//NetRatings
* Beginning with Sept. 2004 data, Nielsen//NetRatings--to increase accuracy--has improved its NetView home panel sample weighting methodology by updating projections for key segments of the Internet universe. Caution should be used with trending data.

Os dados da Comscore também mostram os mesmos quatro sites dominando, mas a AOL News com uma média mensal consideravelmente maior que a registrada pela Nielsen. O Yahoo foi o líder, com a média de 27 milhões de visitantes únicos por mês em 2005, com a MSNBC (26,2 milhões) logo atrás. CNN (21,9 milhões) e AOL News (20,9 milhões) eram os próximos na lista. Depois desses quatro havia uma queda significativa de tráfego. O próximo site de notícias na lista era o Internet Broadcasting (11 milhões), um agregado de sites noticiosos de televisão.

 

Principais sites de notícias(ComScore)

Janeiro a dezembro de 2005

Fonte: comScore Media Metrix

Como em 2004, as marcas "tradicionais" de jornalismo parecem deter o maior apelo, a julgar pelos números de audiência. A Internet é conhecida por aparentemente conter um número ilimitado de sites de notícias de todo o espectro político. Os sites mais populares, porém, são geralmente associados ao establishment da mídia. Dos 20 sites no topo da classificação da Nielsen//NetRatings em 2005, 17 eram associados a empresas de notícias tradicionais -- as que produzem a maior parte de seu conteúdo offline para jornais, televisão ou revistas.

A Madison Avenue acompanhou as tendências de audiência, investindo cada vez mais dólares de "branding" nos maiores portais, como Yahoo, MSN e AOL. Segundo a Pricewaterhouse Coopers, as 50 maiores empresas atraíram 96% de todos os gastos, com a maior parte indo para as maiores das maiores: AOL, Yahoo, Google e MSN.

 

O resto das 20 maiores

Dos 20 maiores sites em 2005, 12 eram individuais. Além da CNN, Yahoo, MSNBC e CNN, eles incluíam, na ordem: AOL, New York Times, USA Today, ABC News, Google News, WashingtonPost.com, CBS News, Fox News e BBC News. Os demais eram sites múltiplos cujos totais são agregados sob um telhado corporativo, como os sites combinados dos jornais da Knight Ridder ou da Gannett.

O site que apresentou maior índice de crescimento este ano foi o da BBC, que foi reconhecido não apenas por sua forte reportagem internacional, mas também pelo aumento de ferramentas interativas para os leitores. Essas forças tornaram-se especialmente claras durante grandes eventos internacional como o tsunami e os ataques terroristas a Londres. Em 2005, o site da BBC News teve em média 5,6 milhões de visitantes únicos, um aumento de 30% em relação a 2004.

Como notamos na discussão sobre a indústria de jornais, os veículos nacionais como New York Times e USA Today lideraram a tendência de reduzir a circulação impressa em 2005. Eles também se saíram bem online. A audiência desses sites cresceu 19% e 15% respectivamente em 2005. Alguns jornais com maior circulação impressa regional, como o Washington Post, que sofreram quedas de circulação impressa acima de 6%, cresceram ainda mais online. O tráfego no site do Post aumentou 31%.

Outro site que se saiu excepcionalmente bem foi o Google News, que foi lançado em setembro de 2003 e saiu da fase experimental ("beta") no final de janeiro de 2005. A primeira página do Google News é baseada em um algoritmo que vasculha a web em busca de notícias e as classifica segundo o que considera mais relevante. Isso muitas vezes resulta em uma mistura de material de fontes externas à corrente dominante do jornalismo. Em 2005, o Google News teve em média uma audiência única de 7,8 milhões de visitantes nos EUA -- um aumento de 25%.

Dos demais sites entre os 20 principais, as coletâneas de sites, além da Knight Ridder e da Gannett, incluem agrupamentos de sites de notícias de TVs locais chamados Internet Broadcasting, Tribune Newspapers, Hearst Newspapers Digital, World Now, Advance Internet e Associated Press. Alguns destes apresentaram um forte crescimento, enquanto outros tiveram crescimento lento ou nenhum. Por exemplo, a World Now, uma rede de mídias noticiosas locais, cresceu 26% em 2005. Mas a Gannett cresceu apenas 5% e a Associated Press parece ter declinado.

 

Tendências de propriedade na mídia online

Os números do tráfego nos principais sites levantam outra questão. Em seus primórdios, a Internet foi celebrada como uma força libertadora do que muitos consideravam uma abordagem de mercado homogeneizada, massificada, que caracterizava a chamada antiga mídia: rádio, televisão, jornais e revistas. E se hoje qualquer pessoa com um modem e um computador pode produzir um site de notícias ou um blog, os sites de notícias mais populares continuam espelhando outras indústrias de mídia, em que um número relativamente pequeno de conglomerados possui a grande maioria dos canais de notícias.

Alguns críticos de mídia, notadamente Ben Bagdikian, ex-reitor da faculdade de jornalismo da Universidade da Califórnia em Berkeley, vêem uma perigosa falta de diversidade no mundo das notícias online:

"A população americana é visivelmente diversificada em origem, política, geografia e gostos, e sempre precisou que essa variedade se refletisse em uma diversidade paralela em informação pública e entretenimento... Com os maiores disseminadores de notícias, comentários e idéias do país firmemente entrincheirados entre um pequeno número das mais ricas corporações do mundo, não é de surpreender que suas notícias e comentários se limitem a um espectro estreito e não representativo da política."

Como notamos em anos anteriores, 80% dos 20 principais sites de notícias são propriedade das cem maiores companhias de mídia em termos de receita de mídia líquida gerada nos EUA, como relatado por Advertising Age. Por exemplo, a Time Warner era a principal companhia em receita de mídia (US$ 37 bilhões) e é a matriz do terceiro e quarto sites mais populares, CNN.com e AOL News. A Gannett é a 12ª entre as principais companhias de mídia, e é proprietária dos dois sites de notícias mais populares, USAToday.com e a agregação de seus diversos sites de jornais locais.

Em comparação com o ano passado, a mesma porcentagem de sites (80%) é propriedade das maiores companhias de mídia, enquanto a parcela de sites de propriedade dos 10 sites de maior receita caiu de 32% para 25% em 2005.

O que explica a relativa estabilidade da tendência à concentração na mídia? Talvez um motivo seja a decisão da Comissão Federal de Comunicações (FCC) em 2005 de não tentar alterar a proibição legal de "propriedade cruzada", que impede as companhias de possuir jornais e canais de televisão no mesmo mercado.

Dois dos quatro sites que não são propriedade de grandes companhias de mídia americanas pertencem a outras gigantes, BBC e Associated Press. Os outros dois, Internet Broadcasting e World Now, são na verdade agregações de vários sites.

A BBC e a AP são organizações de mídia que oferecem um modelo empresarial diferente da corporação de mídia tradicional. A BBC é financiada por uma licença de televisão paga pelos domicílios, e "não precisa servir aos interesses de anunciantes ou gerar retorno para os acionistas". Enquanto isso, a Associated Press é uma cooperativa sem fins lucrativos com 3.700 empregados que trabalham em 240 redações de notícias ao redor do mundo.

 

Propriedade dos sites de notícias mais populares

Por porte da empresa, de janeiro a dezembro de 2005

Fonte: Advertising Age, "100 Leading Media Companies list" ; PEJ research
* The top 100 list is determined by domestic media revenues. The top 25 sites are based on Nielsen//NetRatings data for January-December 2005.

Aquisição de sites não-noticiosos

 

Uma das maiores tendências econômicas da mídia em 2005 foi a aquisição de propriedades menores na Internet por grandes companhias de mídia, reforçando sua posição já dominante. Em 16 meses, a Scripps comprou a Shopzilla; a Dow Jones comprou a MarketWatch; a New York Times Company comprou a About.com; e Gannett, Knight Ridder e Tribune Co. adquiriram 75% do agregador de notícias locais Topix.net.

Outras empresas de mídia podem estar observando de perto as mudanças demográficas que aguardam a grande mídia. No final do verão de 1005, a News Corp. gastou US$ 1,5 bilhão em três companhias da Internet em apenas sete semanas, incluindo a mySpace.com, que recebe 32 milhões de visitas mensais nos EUA. Segundo o New York Times, Rupert Murdoch "está especialmente preocupado com o fato de o público mais jovem passar cada vez mais tempo online e adotar atrações como interatividade e comunidades virtuais". Com as aquisições, a News Corp. ficará em quarto lugar no total de page views mensais, atrás de Yahoo, Time Warner e MSN, mas à frente de eBay e Google.

Por que houve esse surto de atividade? Alguns analistas especulam que as aquisições são uma estratégia para competir por uma fatia maior do bolo da publicidade na Internet, que alguns temem que esteja sendo rapidamente engolido por Yahoo e Google. Em outras palavras, algumas empresas de mídia tradicionais sentem que não podem participar do mercado neste momento.

Outro motivo é que essas aquisições agradam a Wall Street. "Em vez de assumir pequenas posições em novatas promissoras", disse um analista elogiando a News Corp. de Murdoch, por exemplo, "concentrar-se em comprar companhias já testadas e que geram receitas operacionais."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Versão original:
http://www.stateofthemedia.org/2006/narrative_online_intro.asp?cat=1&media=4